O juiz da 1ª Vara Criminal Especializada do Rio de Janeiro, Bruno Rulière, indeferiu o pedido da defesa e retirou a escolta feita por policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), tropa de elite da Polícia Civil, à Júlia Mello Lotufo, viúva do miliciano e ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, que é ligado ao clã Bolsonaro.
Segundo o juiz "nunca houve determinação do Juízo para que a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro prestasse escolta à acusada". Ele ainda negou o pedido de Júlia para morar em Portugal, mantendo retido o passaporte.
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Julia hoje é casada com o empresário Eduardo Giraldes e mora em um condomínio de luxo à beira-mar na Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca.
Ao menos seis agentes da elite da Polícia Civil, pagos com recursos públicos, se revezavam na escola da viúva do miliciano 24 horas por dia.
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Os agentes do grupo de elite da polícia fluminense ganham cerca de R$ 10 mil, mais um gratificação de R$ 1,5 mil mensais. Além dos gastos com salários, o governo do Rio banca combustível da escolta e dos deslocamentos dos agentes, que se revezem em turnos para fazer a segurança.
Delação
A decisão para a escolta partiu da Secretaria Estadual de Polícia Civil quando Júlia se ofereceu pra fazer um acordo de delação premiada, falando tudo o que saberia a partir de sua união estável com Adriano, chefe do chamado Escritório do Crime, grupo de extermínio ligado à milícia de Rio das Pedras.
O acordo começou a ser alinhado com as promotoras Simone Sibílio e Leticia Emile, que investigavam o assassinato de Marielle Franco. Em troca de informações sobre o crime, Julia queria deixar o país.
No entanto, a delação gerou uma crise no Ministério Público que culminou com a saída das duas procuradoras do caso.
O promotor Luís Augusto Soares assumiu as negociações, mas travou a delação quando Julia apontou uma pessoa que teria foro privilegiado em seu depoimento.
Agentes do Grupo Especial de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP-RJ, no entanto, disseram não ver novidades no início dos depoimentos e rejeitou a delação. Mesmo assim, a escolta pelo Estado continua.
Impedida de citar Bolsonaro
Trechos de diálogos entre Eduardo Giraldes, atual marido, e o ex-presidente e ex-patrono da escola de samba Unidos da Vila Isabel, Bernardo Bello Barbosa, mostram que Julia foi proibida de citar o nome de Jair Bolsonaro (PL) na delação.
Bello afirma durante a conversa que os promotores não estariam interessados nele. "É óbvio que o que querem não é o bobalhão aqui", mas sim que a viúva do miliciano "fale de [Jair] Bolsonaro".
"Não vai falar", responde o atual marido de Júlia sobre Bolsonaro. "Se ela souber, e ela quiser falar", emenda Bernardo Bello. "Mas se souber, eu também não vou deixar ela falar", segue Eduardo Giraldes.
Bernardo diz então acreditar que, se citar Bolsonaro, vão acabar com Júlia "de verde, amarelo, azul e branco".
"Se ela não quiser falar... meu irmão, até porque, sabe por quê? Vai acabar com a vida dessa menina", afirma o ex-presidente da Vila Isabel.
O marido de Júlia concorda: "E com a minha".
"Bolsonaro está fodendo Adriano"
Em outro áudio das investigações, divulgado no início de abril, Júlia Lotufo cita textualmente o presidente, dizendo que o que está "fodendo" a vida do miliciano é "o presidente".
Na conversa, gravada há três anos pela Polícia Civil durante a Operação Gárgula, que investigou Adriano, Júlia diz a uma amiga sobre o que estaria vivendo à época.
"A verdade é a seguinte: o que hoje está fodendo o Adriano é o presidente, mais nada", diz. A amiga emenda: "Só o Bolsonaro" e Júlia responde. "É. Porque se não fosse ele [Bolsonaro] ninguém mais falaria dele [Adriano]".
Com informações do jornal O Globo