O secretário de Saúde da Bahia, Fábio Villas-Boas, anunciou através das redes sociais, no início da noite desta terça-feira (3), que enviou ao governador Rui Costa (PT) uma carta solicitando sua exoneração do cargo. O mandatário estadual já teria aceitado o pedido.
O anúncio vem após a exposição de um ataque misógino que Villas-Boas fez contra a chef de cozinha Angeluci Figueiredo, dona do tradicional restaurante Preta, em Salvador.
Através do WhatsApp, no último domingo (1), o secretário chamou a chef de cozinha de "vagabunda" após ter sua reserva no restaurante cancelada.
"Esqueça de me ver de novo aqui. E ainda paguei R$ 350 para desembarcar. Amigo o caralho! Vagabunda", escreveu Villas-Boas a Angeluci, entre outras ofensas e ameaças.
A chef de cozinha, por sua vez, respondeu com uma mensagem contundente.
"Pergunto-lhe: o que autoriza uma autoridade, no exercício de uma função pública das mais relevantes do estado - a de secretário de Saúde do Estado da Bahia, e durante uma pandemia, o que torna a sua função sinhá mais responsável - chamar uma mulher de VAGABUNDA? O senhor admite algum senso de possibilidade de razoabilidade no seu gesto, no uso dessas palavras? E como se fosse insuficiente essa ofensa, o senhor me ameaça, de queixar-se a empresários e de me expor nos meios de comunicação, secretário", escreveu.
A dona do restaurante ainda apontou racismo e misoginia nas mensagens de Villas-Boas.
"Veja bem em que lugar as circunstâncias históricas NOS COLOCARAM: o secretário, um médico bem sucedido, empresário, agropecuarista, homem branco, de família tradicional, etc, etc, alimentando a cultura da intolerância e dos tais privilégios ditos brancos, ofendendo moralmente uma mulher negra, chamando-a diretamente de vagabunda, e por quê? Pelo fato de razões climáticas terem lhe impedido um domingo de bem estar num restaurante localizado numa ilha sujeita a intempéries, como qualquer local no meio do mar. O senhor sabe o que é ser misógino, secretário? Sabemos que sim, o senhor sabe. Mas sabemos que nesse país ninguém é racista, ninguém é misógino. Aqui não há nunca vítimas, só vitimismo e mimimi, afinal devemos garantir que autoridades se sintam à vontade para sacar o telefone e chamar uma mulher de vagabunda, simplesmente porque pode, porque um desejo foi frustrado pelo tempo", pontuou.
Na postagem em que anunciou sua exoneração, Villas Boas não entrou em detalhes sobre o ocorrido.
"Entreguei, agora à tarde, minha carta com pedido de exoneração do cargo de secretário estadual de Saúde, que ocupava desde janeiro de 2015. A solicitação foi aceita pelo governador Rui Costa. Agradeço a confiança do governador que me fez o convite e que me deu a oportunidade de contribuir para uma verdadeira revolução na saúde, visando atender a quem mais precisa", declarou.
Antes, o secretário havia feito um pedido de desculpas à chef de cozinha e "a quem se sentiu ofendido": "Uma enorme frustração momentânea me levou, tomado de emoção, a dizer o que disse".
Governo da Bahia
O governador da Bahia, Rui Costa, não se manifestou publicamente sobre o ocorrido. A reação se deu de maneira oficial através da secretaria de Comunicação do governo, através de nota.
"Por meio da Secretaria de Comunicação, o governo do estado afirma lamentar o episódio, considera inadmissível qualquer tipo de agressão e manifesta total solidariedade à empresária Angeluci Figueiredo e a todas as mulheres", diz o texto.