Racismo estrutural: jovem é indiciado por receptação de bicicleta

Por sua vez, o casal branco que acusou Matheus, sem nenhuma prova, de ter roubado a bicicleta foi inocentado

Matheus Ribeiro e a bicicleta elétrica (Foto: Reprodução redes sociais)
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Após ter sido acusado por um casal branco de ter roubado uma bicicleta elétrica e, posteriormente, ter denunciado o caso como racismo, Matheus Ribeiro agora se vê enquadrado pela Justiça: acusado do crime de receptação.

Caso o instrutor de surf seja condenado, ele pode pegar até quatro anos de prisão.

Investigação criminal

Desde que o caso ganhou repercussão nacional, a polícia resolveu investigar a bicicleta de Matheus.

Em depoimento, Matheus afirmou que comprou a bicicleta pela internet e que pagou a metade do preço de mercado (R$ 3,6 mil). O homem que vendeu também foi indiciado.

O instrutor de surfe afirmou que não foi informado sobre o indiciamento pela Polícia e que não vai se manifestar sobre as acusações por orientação dos seus advogados.

O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público, que agora vai decidir se apresenta ou não denúncia à Justiça.

O caso

Era pra ser um Dia dos Namorados tranquilo, mas, enquanto Matheus Ribeiro, montado em sua bicicleta elétrica, aguardava a sua namorada em frente ao Shopping Leblon, um casal de pessoas brancas o acusou de ter roubado a bicicleta.

“Na tarde de ontem, Dia dos Namorados, eu estava esperando minha namorada em frente ao shopping Leblon. Quando do nada me aparecem esses dois jovens com as seguintes frases: ‘VOCÊ PEGOU ESSA BICICLETA ALI AGORA, NAO FOI?’, ‘É SIM, ESSA BICICLETA É MINHA!’ – replicou a jovem moça”, conta Matheus em relato postado em suas redes.

Diante do absurdo da cena, Matheus conta que nos primeiros momentos ficou sem reação, mas em seguida teve de provar que a bicicleta era sua.

“E daí, eu sem entender nada, fui tentar mostrar pros dois que a bicicleta é minha, com fotos antigas com ela, chave, o que foi possível naquele momento de segundo. Porém eu só consegui provar que a bicicleta é minha, quando sem minha autorização, o lindo rapaz pega o cadeado da minha bicicleta e tenta abrir. Frustrado com sua tentativa, ele diz que não me acusou, afinal, o rapaz só estava perguntando”, ironiza Matheus.

Polícia apreende bicicleta de jovem negro acusado de roubo por casal

Uma perícia teria apontado que a bicicleta comprada pelo jovem negro, que foi acusado de roubo por um casal branco, teria sido furtada em 18 de fevereiro em Ipanema.

À polícia, Matheus disse que a bicicleta foi anunciada pela metade do preço em um site e que efetuou a compra parcelada no cartão de crédito no dia 1º de abril.

O veículo teria sido entregue ao lado de um shopping na zona norte do Rio. Ele afirmou ainda que não estranhou o fato da chave que destranca a bicicleta ter sido modificada.

Segundo a polícia, a pessoa que vendeu a bicicleta para Matheus já foi identificada e, em seu depoimento, em nenhum momento disse que apresentou algum tipo de documento para Matheus.

Casal branco inocentado

O inquérito que apurava o caso de Mariana Spinelli e Tomás Oliveira, acusados de calúnia e racismo por Matheus Ribeiro, foi arquivado pelo juiz Rudi Baldi Loewenkron, da 16ª Vara Criminal do Rio de Janeiro.

Matheus usava uma bicicleta elétrica igual à do casal, que tinha sido furtada. O juiz, estranhamente, entendeu que Mariana e Tomás foram levados a acreditar que estavam diante do próprio equipamento, não tendo havido dolo.

“Não se olvida a possibilidade de descuido por parte dos indiciados na abordagem de Matheus. Porém, como bem colocou o Ministério Público, faltou o elemento constitutivo do tipo falsamente para configuração de calúnia, vez que a semelhança da bicicleta, do cadeado, o local e o lapso temporal entre os eventos levaram os indiciados a acreditar que poderiam estar diante da bicicleta de sua propriedade. O crime de calúnia só se dá a partir do dolo, que ora não se vislumbra para configuração do crime imputado, o que, por certo, não afasta a possibilidade de responsabilidade civil pela acusação imprudente. Todavia, na seara criminal, o fato demonstra-se atípico, diante da ausência do tipo penal na modalidade culposa”, justificou Loewenkron.

Jovem branco roubou a bicicleta

Igor Martins Pinheiro, de 22 anos, foi preso pela Polícia Civil como autor do roubo da bicicleta elétrica em frente ao shopping Leblon, na Zona Sul do Rio, no último sábado (12).

O caso ficou conhecido após Mariana Spinelli e Tomás Oliveira abordarem Matheus Nunes Ribeiro, também de 22 anos e negro, perguntando se ele teria roubado o veículo.

Igor foi preso após ter sido reconhecido por um segurança do Shopping Leblon que prestou depoimento na delegacia, de acordo com a polícia.

O suspeito é branco e conhecido como “Lorão”. Ele tem 28 passagens na polícia e já foi preso sete vezes por outros furtos. Com ele, foi apreendida a bermuda que ele utilizava na hora do crime.

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