O Ministério Público do Ceará (MPCE) denunciou três tenentes-coronéis da Polícia Militar por terem facilitado a invasão do 18° Batalhão da corporação durante o trágico motim ocorrido em 2020, que sublevou várias unidades da PM de diferentes regiões do Estado. O 18° batalhão, em Fortaleza, é considerado o epicentro do movimento e foi o primeiro a ser ocupado pelos amotinados.
A denúncia é com base na delação de um tenente da unidade, apontado como um dos líderes da paralisação ilegal, que afirmou aos promotores que os oficiais Francisco Alexandre Rodrigues de Souza, Gerlúcio Henrique Vieira e João Wilson Elias Xavier não fizeram nada para impedir a tomada do 18° batalhão.
O denunciante conta que tudo começou com uma manifestação de mulheres, que seriam esposas de PMs, na porta do quartel. Na sequência, estranhamente as viaturas do Batalhão de Policiamento de Choque, sob comando do tenente-coronel Rodrigues de Souza, que protegiam a unidade, foram recolhidas. Já contra o tenente-coronel Gerlúcio Henrique Vieira pesa a acusação de ter negociado com mulheres e manifestantes civis que supostamente teriam feito um oficial subalterno da PM como refém, o que para os promotores era uma pura encenação.
No caso de João Wilson Xavier, também tenente-coronel, à época subcomandante do 18° Batalhão, as alegações dos procuradores estaduais é de que o militar é corresponsável pela perda de controle da unidade, que tinha como chefe na data dos fatos o coronel José Maria Chiappetta Telles Júnior, que já é réu na Justiça Militar, onde responde por Desobediência e Descumprimento de Missão Qualificada, crimes que podem render até três anos de prisão.
Caos no Ceará
Durante 13 dias, de 18 de fevereiro a 2 de março de 2020, o Ceará viveu um verdadeiro inferno por conta de um motim realizado por policiais militares. A paralisação, que é ilegal, ocorreu na capital, Fortaleza, e em outras dezenas de cidades do Estado.
O caos instalado pela desordem levou a um aumento de 417% nos índices de homicídios no período. Em pouco menos de duas semanas, 364 pessoas foram assassinadas no território cearense. Houve ainda inúmeros registros de saques, roubos e outros crimes.
O levante realizado pelos policiais rendeu o afastamento de 264 servidores. O Ministério Público afirma que já processa 13 PMs envolvidos no motim e outros 250 seguem sendo investigados em inquéritos que estão nas mãos dos promotores.
Senador Cid Gomes baleado
No grave levante ocorrido no Ceará no ano passado, uma cena ficou registrada na cabeça dos brasileiros. O senador Cid Gomes (PDT), que já foi governador do Estado, tenta abrir caminho com uma retroescavadeira na porta do batalhão da PM de Sobral, reduto político de sua família, é baleado por policiais amotinados que permaneciam encapuzados na unidade.
Cid não precisou passar por cirurgias, mas chegou a ficar na UTI. No total, foram cinco dias de hospitalização até que o senador pudesse voltar para casa. Ele foi atingido por dois tiros e teve o pulmão perfurado pelos projéteis.