Entre o final da tarde e o início da noite desta segunda-feira (1), duas entidades ligadas a área médica divulgaram notas rebatendo o posicionamento do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF), que mais cedo divulgou um texto criticando o endurecimento das medidas restritivas adotadas pelo governo local para conter o avanço do coronavírus.
Para dar base à sua sustentação que se assemelha ao posicionamento de Jair Bolsonaro contra o as medidas de restrição, o CRM-DF usou uma frase de um enviado especial da Organização Mundial da Saúde (OMS) que nunca existiu.
"A restrição maior de liberdade causa o aumento da incidência de transtornos mentais e agravamento das demais doenças crônicas, além de prejuízo irremediável à economia", afirma o órgão.
A Sociedade de Infectologia do Distrito Federal rebateu o CRM afirmando que, apesar da entidade ter nomeado uma Câmara Técnica de Infectologia. "a mesma nunca foi consultada antes da emissão dos posicionamentos recentes, que são a favor do tratamento específico precoce para Covid-19 e contra o lockdown".
"O lockdown já se mostrou, em várias partes do mundo, uma medida útil para controle da transmissão da Covid-19, devendo ser adotado em casos extremos. No Distrito Federal, propõese no momento a restrição de atividades específicas e em horários delimitados. São lícitos os debates e os questionamentos sobre quais atividades devem, ou não, ser afetadas pelas restrições, bem como a duração desse período. Não é admissível, entretanto, que haja um posicionamento radical, contra a medida de forma geral, como fez o CRM-DF", escreve a Sociedade.
A Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) também se manifestou contra a posição do CRM, demonstrando "preocupação".
"As medidas de restrição preconizadas no decreto do GDF são baseadas em evidências sólidas obtidas em estudos científicos bem desenhados e executados em diversos locais do mundo. Estas medidas reduzem a transmissão do vírus e que podem apresentar impacto positivo sobre o comportamento da epidemia, contando com a adesão da população", diz nota divulgada pela faculdade.
Confira, abaixo, a íntegra de ambos os textos criticando o CRM.
Nota da Sociedade de Infectologia do DF
A Sociedade de Infectologia do Distrito Federal informa que, apesar do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal ter nomeado uma Câmara Técnica de Infectologia, a mesma nunca foi consultada antes da emissão dos posicionamentos recentes, que são a favor do tratamento específico precoce para Covid-19 e contra o lockdown.
O DF, assim como o restante do Brasil, encontra-se em uma grave crise de saúde pública e tal situação requer máxima expertise, para que as melhores medidas de contenção sejam implementadas, visando assim o benefício da sociedade como um todo. Soluções simples ou radicalismos não atendem à necessidade atual.
O lockdown já se mostrou, em várias partes do mundo, uma medida útil para controle da transmissão da Covid-19, devendo ser adotado em casos extremos. No Distrito Federal, propõe-se no momento a restrição de atividades específicas e em horários delimitados. São lícitos os debates e os questionamentos sobre quais atividades devem, ou não, ser afetadas pelas restrições, bem como a duração desse período. Não é admissível, entretanto, que haja um posicionamento radical, contra a medida de forma geral, como fez o CRM-DF.
A SIDF possui membros atuantes em todo o DF, nas redes pública e privada, e se dispõe a contribuir no que for preciso. Vale ressaltar que a implementação de medidas, que restringem a circulação de pessoas, deve ser baseada em indicadores que avaliem a representação de risco de cada uma das atividades envolvidas."
Nota da Faculdade Medicina UnB
A Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília vem a público manifestar sua profunda preocupação com a divulgação da nota pública do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) contra as medidas adotadas pelo Governo do Distrito Federal (GDF) para diminuir o trágico impacto da pandemia de Covid-19 na população.
No presente momento, a transmissão de SARS-CoV-2 apresenta curva ascendente, tanto no DF quanto nos municípios da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal (RIDE), com a ocupação de praticamente a totalidade dos leitos de UTI disponíveis. A situação é crítica e, como tal, exige intervenção imediata e categórica para diminuir o risco de perda de vidas pela falta de atenção adequada aos casos mais graves de Covid-19 e de evitar mortes por outros agravos prevenindo o colapso do sistema de saúde.
O processo de vacinação da população mais vulnerável à doença grave encontra-se em andamento, no entanto, a escassez atual de vacinas demandará um período prolongado de vários meses, antes de que essa meta seja adequadamente atingida.
A adesão às medidas de distanciamento físico, higienização frequente das mãos, uso de máscaras e de evitar aglomerações é fundamental para o enfrentamento da pandemia, porém, isso não é suficiente para reverter o cenário crítico atual na rede de atenção à saúde do DF.
As medidas de restrição preconizadas no decreto do GDF são baseadas em evidências sólidas obtidas em estudos científicos bem desenhados e executados em diversos locais do mundo. Estas medidas reduzem a transmissão do vírus e que podem apresentar impacto positivo sobre o comportamento da epidemia, contando com a adesão da população.