Guilherme Alves Costa, de 19 anos, que matou esfaqueada Ingrid Oliveira Bueno da Silva, de 18 anos, na casa dele em Pirituba, na zona Oeste de São Paulo, na última segunda-feira (22) planejou o crime há duas semanas, com anotações em um livro, e sorriu ao ser preso: "Fiz porque quis", disse a policiais no momento da prisão.
O assassino e a vítima eram jogadores de E-Sports e haviam se conhecido na internet. Eles atuavam em equipes "inimigas" no Call of Duty: Mobile, jogo de tiro para celular. Ingrid, que era conhecida como Sol, era uma liderança feminina na equipe FBI E-Sports. Guilherme fazia parte de outra equipe, o Gamers Elite.
Questionado se tinha ciência do crime ao ser preso, Guilherme disse "claro que tenho" e, na delegacia, onde chegou com as botas sujas de sangue, afirmou que seu objetivo era "atacar o cristianismo".
Ele foi indiciado em flagrante por homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima. O flagrante foi convertido para prisão preventiva e tranferido para o CDP (Centro de Detenção Provisória) Paulo Gilberto de Araújo, no Belém (zona leste).
Livro
Guilherme teria feito o planejamento, onde relata as motivações do crime, em um livro, que foi apreendido pela polícia.
Segundo nota do Gamers Elite, o estudante preso utilizava o apelido "Flashlight" no jogo. Ainda na segunda, ele enviou um vídeo no grupo do WhatsApp do time, no qual afirmaria que "supostamente acabara de matar uma mulher, filmar e compartilhar".
O suspeito, ainda segundo a nota do Gamers Elite, também enviou um documento em PDF com "mensagens de ódio contra cristãos" e fazendo "um aceno ao terrorismo".
"Também gostaríamos de afirmar com total consciência que a nossa organização jamais compactuou com qualquer ato criminoso de nenhum modo e jamais irá compactuar ou fazer apologias ao mesmo", diz a nota.
Lola
Após o assassinato, Guilherme Costa enviou o vídeo em um e-mail para a professora e militante feminista Lola Aronovich, que em entrevista à Fórum, disse que no texto o rapaz revela "ódio forte pelas mulheres".
“Esses últimos anos, andei me abalando com minha namorada Eduarda, ela não me compreendia, eu peguei um ódio forte pelas mulheres nesses últimos anos da minha vida, toda esse drama que elas passam, toda essa melancolia, eu sinto nojo e ódio disso, eu quero ficar longe, ser um homem seguro e esperto”, diz Costa no e-mail.
Lola diz que o crime é um reflexo da misoginia presente no meio gamer e “nerd”. Ela afirmou em entrevista à Fórum que é comum muitas mulheres serem ameaçadas e maltratadas nesse espaço.
“É um meio super misógino, as mulheres que estão lá dentro sempre denunciam, sempre avisam, são sempre muito ameaçadas, maltratadas, xingadas. É um campo que está cheio de ‘incel’, masculinista, misógino. Acham que as mulheres atrapalham tudo, acham que as mulheres são apenas para sexo. Eles acham que nem existe mulher que gosta de game, que é só ‘attention whore'”, afirma.