Com as filmagens encerradas há dois anos, o longa-metragem ‘Medida Provisória’, que marca a estreia do ator Lázaro Ramos como diretor, está sofrendo censura por parte da Agência Nacional do Cinema (Ancine). O filme está tentando estrear no circuito nacional há mais de um ano, mas o órgão público, atualmente aparelhado por radicais bolsonaristas, tem dificultado os planos da produção, que já protestou formalmente em correspondência encaminhada à instituição, que recebe o contato, mas não responde.
A obra versa sobre racismo e trata de um Brasil distópico, cujo governo autoritário determina que todos os cidadãos de origem negra sejam mandados para a África, o que gera revolta e caos em escala gigantesca. Para a produção de ‘Medida Provisória’, as dificuldades burocráticas impostas são claramente atos de censura, como ocorreu com ‘Marighella’, dirigido por Wagner Moura, que ficou na geladeira da Ancine mais de dois anos, até estrear no início de novembro.
"Ao longo de mais de um ano foram trocados com a agência dezenas de e-mails, checados o recebimento e andamento de protocolos, bem como foram realizadas consultas processuais”, diz um comunicado assinado pelo escritório que representa os interesses de Ramos e sua produtora.
"A equipe de Medida Provisória segue confiante na Ancine e espera poder anunciar, em breve, uma data de lançamento para que todos os brasileiros possam conhecer o longa que tem em seu elenco nomes como Seu Jorge, Taís Araujo, Alfred Enoch, Adriana Esteves, Renata Sorrah, Mariana Xavier e Emicida, além das centenas de profissionais que trabalharam nos bastidores sempre acreditando no cinema nacional", diz ainda a nota encaminha à imprensa em protesto pela censura imposta pela Ancine.
Ocorreu o mesmo com ‘Marighella’
O ator e diretor Wagner Moura denunciou em várias oportunidades a censura imposta pela Ancine, atualmente controlado por extremistas alinhados ao presidente Jair Bolsonaro, à sua produção ‘Marighella’. Quando Moura esteve em Lisboa, em 17 de novembro deste ano, ele explicou a jornalistas estrangeiros os motivos que levaram à não estreia de seu filme no circuito nacional.
O discurso do ator e diretor foi em tom de denúncia ao autoritarismo do governo brasileiro e foi recebido com gritos de “Fora, Bolsonaro!” vindos da plateia.
“Infelizmente até hoje a gente não conseguiu estrear o filme no Brasil. Isso é muito grave, não só por Marighella, mas acho que todos aqui estão a par que vivemos hoje no Brasil, entre outras coisas, uma situação de censura às artes e à produção cultural”, disse o cineasta naquela ocasião, na capital portuguesa.