Não é a primeira vez que um declarado integrante do núcleo duro do bolsonarismo distorce ou inverte um dado para fazer leituras enviesadas do que vem ocorrendo no Brasil. No entanto, uma mensagem de fim de ano do comandante do Exército Brasileiro, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, abusou desse mecanismo.
O militar encaminhou uma gravação nas redes sociais da força terrestre para enaltecer as operações de intervenção ocorridas durante o ano de 2021 para conter as queimadas e o desmatamento da Amazônia, e que custaram a bagatela de R$ 550 milhões, atribuindo a essas ações a redução dos índices de devastação no bioma. Na mensagem, o comandante cita as operações Verde Brasil e Samaúma.
“No que tange ao meio ambiente, quero destacar as Operações Verde Brasil e Samaúma, realizadas em apoio aos órgãos de fiscalização ambiental, que apresentaram eficiente redução do desmatamento na Amazônia brasileira bem como coibiram a execução de outros crimes ambientais. A Amazônia sempre será nossa prioridade”, disse Paulo Sérgio.
Só que uma olhada nos dados oficiais sobre desmatamento durante o período em que essas operações foram realizadas (a Verde Brasil II e a Samaúma vão de agosto de 2020 e julho de 2021, excluindo a Verde Brasil I, ocorrida em 2019) mostram que o nível de derrubada da floresta nesse espaço de tempo aumentou em 22%.
As informações sobre desmatamento na Amazônia são levantadas pelo Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite), subordinado ao Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que recentemente publicou um informe dando conta de que este terceiro ano do governo Bolsonaro foi o mais destruidor para a maior floresta tropical do mundo nos últimos em 15 anos.
Um outro indício da ineficiência dessas operações foi o fato de o Planalto ter encerrado missões militares para esse fim na região, deixando de lado órgãos e instituições que têm muito mais experiência com o tema, como o Ibama e o ICMBio, bem mais afeitos às ações para coibir incêndios e crimes ambientais na Amazônia Legal.
O general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira é um ávido seguidor do presidente Jair Bolsonaro. Ele foi elevado ao cargo de comandante do Exército após a demissão da cúpula das Forças Armadas em março deste ano, na ânsia do mandatário extremista de impor maior controle e influência sobre os militares da União. O arquivamento do processo que analisava a participação do general Eduardo Pazuello, que ocupou o Ministério da Saúde no auge da crise sanitária da Covid-19, após o oficial ter participado de um comício político com Bolsonaro em cima de um caminhão, o que é flagrantemente ilegal, foi o ato determinante para que analistas do mundo militar tivessem certeza de que Paulo Sérgio foi colocado no posto para satisfazer os desejos do radical que preside a República.