Caso Henry: em audiência, testemunha afirma que menino perguntou à mãe se ele “atrapalhava a vida dela”

O menino Henry Borel, de 4 anos, foi encontrado morto na madrugada do dia 8 de março no apartamento em que morava com a mãe e com o padrasto

Vereador Jairinho e mãe de Henry em entrevista ao Domingo Espetacular (Reprodução)
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O Dr. Jairinho e Monique Medeiros, réus pela morte do menino Henry Borel, se encontraram pela primeira vez nesta terça-feira desde que foram presos.

O reencontro do casal se deu por ocasião da segunda audiência de instrução e julgamento do caso, marcada pela 2ª Vara Criminal da Capital.

No dia 8 de março o menino de 4 anos morreu após ser vítima de torturas realizadas por Dr. Jairinho, seu padrasto.

Jairinho e Monique, a mãe da criança, respondem por homicídio triplamente qualificado, tortura e coação de testemunhas.

"Mãe, eu te atrapalho?"

Na audiência desta terça a primeira testemunha a ser ouvida foi a cabeleireira Tereza Cristina dos Santos.

Em sua declaração, Cristina corroborou o depoimento que havia dado na 16ª DP (Barra da Tijuca), no dia 14 de abril.

A cabeleireira relatou que, ao lavar o cabelo de Monique Medeiros, por volta das 16h30, no dia 12 fevereiro, presenciou uma chamada de vídeo entre a mãe e o filho, Henry.

No depoimento, Tereza afirma que escutou a criança perguntar: "Mãe, eu te atrapalho? O tio (Jairinho) disse que eu atrapalho".

Além disso, Tereza Cristina também revelou que escutou o relato da criança de que "o tio bateu" ou "o tio obrigou".

Em seu relato, a cabeleireira conta que a mãe de Henry conversou com a babá, Thayna de Oliveira Ferreira e que esta mandou vídeos onde o menino aparecia mancando.

Após o envio dos vídeos, Dr. Jairinho ligou para Monique e eles tiveram uma discussão.

"Era um dos colegas mais carinhosos"

Outro depoimento ouvido nesta terça foi o do atual conselheiro do Tribunal de Contas do Município do Rio Thiago K. Ribeiro que, na legislatura de 2012 foi colega do Dr. Jairinho na Câmara Municipal do Rio.

Na condição de informante, pois, alegou ter vínculo de amizade com Jairinho, Thiago revelou que frequentava ambientes sociais e familiares com o padrasto de Henry e que conheceu o apartamento em que o casal vivia com o menino na Barra da Tijuca.

Em seu depoimento, Thiago declarou que Jairinho "era um dos colegas mais carinhosos" e que não consegue entender o que aconteceu.

Também relatou desconhecer qualquer atitude violenta de Jairinho contra qualquer criança e que sempre presenciou uma relação cordial do amigo com o enteado.

No período da tarde será ouvida a terceira testemunha do caso, a tia de Jairinho, a professora Herondina de Lourdes Fernandes.

Foi na casa de Herondina Fernandes, em Bangu, na Zona Oeste do Rio, onde Monique e Jairinho foram presos. No momento da prisão, dois celulares foram arremessados do quarto onde o casal estava hospedado.

Entenda o caso Henry Borel e saiba quem é vereador Jairinho, acusado do assassinato junto com a mãe

O menino Henry Borel, de 4 anos, foi encontrado morto na madrugada do dia 8 de março no apartamento em que morava com a mãe, a professora Monique Medeiros, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Ela e o namorado, o vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (Solidariedade), levaram a criança ao hospital alegando que ele teria sofrido um acidente e que estava “desacordado e com os olhos revirados e sem respirar”.

Os laudos da necropsia de Henry apontaram que a causa da morte foi hemorragia interna e laceração hepática (no fígado) causada por uma ação contundente (violenta). O documento cita ainda a presença de edemas, equimoses, contusões e hematomas no corpo de Henry. Foram identificadas lesões no crânio, no fígado, nos pulmões e nos rins, além de uma série de ferimentos externos.

As investigações também concluíram que Dr. Jairinho agredia o enteado com chutes e golpes na cabeça e que Monique sabia disso pelo menos desde fevereiro. O casal também é suspeito de atrapalhar as investigações e de ameaçar testemunhas para combinar versões.

Filho de uma dona de casa e do coronel da Polícia Militar e deputado estadual – Coronel Jairo (PSC) – Dr. Jairinho concorreu pela primeira vez em eleições em 2004, aos 27 anos, tornando-se o vereador mais votado do Partido Social Cristão (PSC). Ele continuou na Câmara por outros três mandados, até se tornar líder do governo na gestão de Marcelo Crivella (Republicanos).

De acordo com o Ministério Público Federal, o pai do vereador, Coronel Jairo, era suspeito de participação no chamado “mensalinho” da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). O esquema movimentou R$ 54 milhões em pagamentos para que deputados votassem com o governo, na época de Sérgio Cabral (MDB).

O parlamentar foi alvo da operação Furna da Onça, da Lava Jato, voltada para os casos de corrupção da Alerj. Desdobramentos desta operação também miraram o ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), Fabrício Queiroz.

Relação com milícias

A Polícia Civil do Rio de Janeiro também chegou a investigar o deputado por envolvimento com milícias do Rio. O inquérito policial, contudo, não foi o suficiente para indiciá-lo.

Em 2008, uma equipe de reportagem do jornal O Dia foi torturada por milicianos na Favela do Batan, na Zona Oeste carioca. Naquela época, o pai de Jairinho foi acusado de ser um dos políticos envolvido com os criminosos.

No texto “Minha Dor Não Sai no Jornal”, escrito para a revista piauí em 2011, o fotógrafo Nilton Claudino — um dos dois jornalistas agredidos por sete horas — também relata a presença de Jairinho na sessão de tortura.