Avaliado em R$ 42,1 milhões, um lote com 1,2 milhão de testes para detecção da Covid-19 do tipo RT-PCR, armazenado pelo Ministério da Saúde, atingirá o prazo de validade neste mês de novembro e irá direto para a lata do lixo.
Desse total de testes, 250 mil têm validade apenas até o dia 18 deste mês, enquanto um outro lote maior, com aproximadamente 942 mil kits, expira no dia 27. Os produtos são considerados os mais modernos e confiáveis do mercado e que determinam com mais exatidão os resultados.
O governo de Jair Bolsonaro vem tentando manter em sigilo os dados relacionados aos estoques de saúde, já que casos de desperdício por pura incompetência e descaso têm se acumulando durante sua gestão, em diversas áreas.
Em setembro, uma remessa gigantesca e caríssima de vacinas, remédios e testes diagnósticos, formada por dezenas de milhões de itens e avaliada em R$ 243 milhões, perdeu a validade no estoque e precisou ser incinerada. Entre os produtos que a pasta da Saúde deixou vencer no episódio de desleixo anterior estavam 12 milhões de vacinas para gripe, BCG, hepatite B e varicela, que custaram R$ 50 milhões. As coberturas vacinais para essas doenças são justamente aquelas que vêm caindo mais nos dados sanitários sobre imunização no Brasil.
Já os medicamentos que não foram utilizados correspondiam a milhões de doses destinadas a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) que sofrem de câncer, tuberculose, hepatite C, Parkinson, Alzheimer, esquizofrenia, problemas renais e artrite reumatoide, além de imunossupressores aplicados em transplantados.
Um medicamento de altíssimo custo, a Nusinersena, cuja dose única em ampola custa R$ 160 mil, também foi descartado na ocasião porque não foi utilizado, bem como 908 frascos de aculizumab, avaliados em R$ 10 milhões.
O então diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde à época, Ridauto Fernandes, que é general da reserva do Exército e substituiu Roberto Dias (pivô do escândalo Covaxin e que chegou a ser preso durante a CPI do Genocídio), afirmou à reportagem da Folha em setembro que “é indesejável” perder medicamentos por conta do prazo de validade, mas que “acontece em quase todos os ramos da atividade humana”, utilizando uma descabida comparação com estoques de supermercado.