Julio Dantas, um dos proprietários da página no Instagram "Carioquice Negra", que tem mais de 180 mil seguidores, sofreu uma abordagem racista de policiais militares do Programa Segurança Presente, no Rio de Janeiro, na tarde desta quarta-feira (17).
De acordo com o relato, os policiais abordaram o influencer para fazer uma pesquisa com o seu CPF, enquanto outras pessoas circulavam normalmente. No decorrer do vídeo, porém, os agentes se confundem ao tentar dar explicações.
Primeiro, dizem que Julio teria "entrado e saído rápido demais" de uma loja da Renner. Depois, que teria um "volume" na camiseta e, após o influencer negar que era o seu celular, que estava na mão, argumentam que poderia ter sido o vento, que "bateu e criou um volume" na roupa.
Eles dizem, ainda, que Julio teria entrado na loja após vê-los na rua e que não teria se virado quando foi chamado. Também acusam o influencer de ter ingerido bebida alcoólica e estar "muito alterado".
"Ele chegou até mim do nada, eu estou andando normal, saí de dentro da loja. Eu entrei na loja porque eu queria comprar alguma coisa. Eu entrei e sai muito rápido. Estou sendo abordado por dois policiais aqui no centro do Rio porque eles dizem que eu entrei e sai da loja muito rápido", relatou o influencer durante live nas redes sociais.
Assista:
Zombarias e ameaças por parte da polícia
Em vários momentos da gravação, os policiais zombam e ameaçam o influencer. "Você está desrespeitando a polícia e será responsabilizado", diz um. "É dever seu se apresentar para a polícia. Eu não quero usar de meios de força com você. Se coloca no nosso lugar, infelizmente a gente não tem valor", afirma outro.
Após quase 20 minutos de discussão, eles chamam reforços e seis policiais conduzem Julio para a 5ª DP. O motivo seria desobediência legal, já que o influencer teria se "recusado a apresentar seu documento". Os agentes não deixam, ainda, que ele espere o avô chegar para acompanhá-lo até a delegacia.
Em filmagem feita dentro da van, Julio chora e desabafa: "Eu estou muito cansado disso. Eu não tinha nada, estava saindo do trabalho, indo para casa. Fui abordado por entrar e sair rápido demais de uma loja."
"Não vou abaixar a cabeça"
Depois do ocorrido, Julio fez uma sequência de stories afirmando que estava "bem fisicamente" e recebendo o suporte jurídico necessário. "Vamos seguir avisando, o recado foi dado, eu não vou abaixar a cabeça", disse.
"Eu estava sendo conduzido por desacato, mas chegando lá [na delegacia] me colocaram na área comum, o que pode provar que não houve desacato nenhum", afirmou.
Fórum pede posicionamento do Programa Segurança Presente
A Fórum solicitou um posicionamento da Secretaria de Estado de Governo do Rio de Janeiro, responsável pelo Programa Segurança Presente. O retorno foi por meio de nota:
"Os policiais do Centro Presente estavam patrulhando a região na tarde de ontem (17/11) quando suspeitaram de um rapaz que, segundo eles, demonstrou insatisfação com a aproximação policial e pareceu querer se desvencilhar dos agentes entrando em uma loja. Os policiais se aproximaram do rapaz e pediram que ele se identificasse, mas ele se recusou e foi conduzido à delegacia, conforme procedimento padrão. Na DP ele foi identificado, nada foi constatado e foi liberado em seguida.
Vale ressaltar que o foco da Operação Segurança Presente é o atendimento à população e as abordagens policiais são realizadas conforme previsto em Lei. Os policiais e agentes da Operação são orientados e a cor da pele não é escolha para abordagem policial. As abordagens não são pautadas por cor da pele, orientação sexual, religiosa, de gênero ou qualquer fator pessoal, mas a partir de denúncias ou comportamentos que podem representar algum risco à coletividade."