Com a retomada do julgamento da morte do músico Evaldo dos Santos Rosa, a defesa dos 12 militares do Exército acusados de realizar 250 disparos contra o carro em que estava a família do musico decidiu adotar nova estratégia para tentar livrar os agentes de condenação por homicídio.
Segundo informações da jornalista Daniele Dutra, do Uol, o advogado Paulo Henrique Pinto de Mello acusou o catador de materiais recicláveis Luciano Macedo, que tentou ajudar o músico e acabou morrendo com os disparos, de ter sido o responsável pela morte do músico.
Com argumentos contraditórios, a defesa sugeriu que Luciano era olheiro do tráfico, que traficantes teriam matado Evaldo e, por fim, que o tiro teria partido do catador. Essas teses, no entanto, foram apresentadas sem provas e contrariam a perícia realizada no local.
Dayana Fernandes, viúva de Luciano, se indignou com a posição adotada pela defesa dos militares. "É revoltante, eu estou indignada. Estão insinuando que meu marido tinha envolvimento com o tráfico da região, que meu marido foi culpado pelo que aconteceu com o Evaldo. É muito fácil acusar quem já está morto e não pode se defender. Enquanto isso, o Exército mata quem eles querem. O Luciano já tinha saído do tráfico há muito tempo, já tinha saído dessa vida", disse Dayana ao Uol.
André Perecmanis, advogado da família de Evaldo e assistente de acusação, disse à Fórum mais cedo que não há como prever se os 12 militares serão condenados ou não. No entanto, avalia que as provas são muito fortes contra eles. "A versão deles não tem nenhum amparo no processo."
Relembre o caso
Em abril de 2019, Evaldo dirigia um carro onde levava a esposa, Luciana Nogueira, o filho de 7 anos, o sogro e uma amiga para um chá de bebê. No bairro de Guadalupe, o carro foi alvo dos fuzis e das pistolas dos militares. Evaldo e Luciano, que tentou socorrer o músico, morreram na hora.
Laudo realizado à época revelou que cerca de 257 disparos foram realizados contra o carro. O Ministério Público Militar pediu a prisão de 8 dos 12 envolvido. Em sua alegação final, o MPM afirma ter comprovado 82 tiros e deixa claro que houve dificuldade para comprovar quantos tiros foram disparados por cada militar envolvido na ação. Evaldo levou nove tiros.
Evaldo levou oito tiros nas costas.
“Assim agindo, mataram, com 82 disparos (!!!), um músico que estava desfalecido dentro de seu carro e cuja esposa e filho de 7 anos tinham acabado de sair correndo para pedir ajuda, feriram um idoso e feriram mortalmente um catador de recicláveis que apenas se aproximou do veículo para prestar ajuda atendendo aos gritos de socorro da esposa de um homem inconsciente”, diz trecho da manifestação do MPM.