Uma mulher de 63 anos foi resgatada em situação análoga à escravidão na casa de uma família na Abolição (zona norte do Rio). A idosa trabalhava desde os 22 anos como empregada doméstica, mas não recebia salário e nem tinha direito a férias.
Ela foi resgatada na última segunda-feira (25) no âmbito da Operação Resgate, de combate ao trabalho escravo. A ação foi realizada pela Polícia Federal, Ministério Público do Trabalho (MPT), Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), Ministério Público Federal (MPF) e Defensoria Pública da União (DPU) e, até o momento, resgatou 140 pessoas em todo o país. A idosa de 63 anos foi uma das duas pessoas resgatadas no Rio pela operação.
O MPT-RJ relatou que ela foi encontrada dormindo em um quarto sem energia elétrica e com seus pertences armazenados em uma caixa de papelão. Em depoimento, a idosa disse que ao longo dos anos trabalhou para diversos integrantes da família.
A empregada relatou que recolhia latinhas na rua e entregava o dinheiro da venda para a patroa. Disse ainda que recentemente ficou doente e foi atendida por um médico da família que diagnosticou Covid e receitou alguns medicamentos. No entanto, não foi realizado nenhum teste clínico.
Segundo reportagem do G1, seus patrões resgataram o auxílio emergencial a que ela teria direito. Em depoimento, a mulher disse que entregou seus documentos para que o benefício fosse sacado. No entanto, sua patroa teria dito que ela não teria direito porque sua identidade estava “velha”. Só que os agentes detectaram que parcelas do auxílio foram, sim, retiradas.
Em depoimento, a patroa teria admitido que sacou o primeiro pagamento e que os demais teriam sido recebidos por outras pessoas. Um procedimento foi instaurado para apurar o caso.
Os empregadores da idosa receberam autos de infração e poderão recorrer em liberdade. Um inquérito será instaurado na Polícia Federal.
Outra doméstica resgatada
Na operação, outra empregada doméstica foi resgatada no Rio, essa na Vila Isabel. A mulher tem 51 anos e trabalhava para uma mesma família desde 1989. A empregada não tinha folgas e, além dos serviços de casa, cuidava de uma pessoa com Alzheimer. A mulher dormia em um colchonete no chão, próximo à cama do paciente de quem ela cuidava, e guardava todos os seus pertences em um armário dentro do banheiro.
As duas mulheres foram deixadas aos cuidados de psicólogas da Cáritas Arquidiocesana. Elas mulheres foram hospedadas em um hotel até a obtenção de vaga no acolhimento institucional ou reinserção na família de origem.
As empregadoras foram intimadas a pagar as verbas rescisórias das trabalhadoras, com prazo de 10 dias para comprovação. O MPT-RJ buscará uma indenização para as vítimas compatível com o período em que viveram em situação análoga à escravidão.