Depois da "meritocracia" de Luciana Salton, diretora da vinícola Salton, que afirmou que na empresa familiar "sobrenome não garante emprego", foi a vez de Alfredo Setubal, presidente da Itaúsa e membro de uma das três famílias donas do banco Itaú, expor o pensamento da elite brasileira sobre o "corporativismo".
Presidente da holding que controla empresas como Itaú Unibanco, Duratex e Alpargatas, Alfredo Setubal afirmou, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo nesta quarta-feira (23), que a economia brasileira é muito "corporativista", ao defender a redução de impostos e as reformas neoliberais - uma das principais bandeiras do ministro da Economia, Paulo Guedes - para a retomada da economia no pós-pandemia.
"Reduzir impostos, fazer as reformas… O Brasil é um país muito ineficiente. Você tem algumas ilhas de eficiência, setores com vantagens competitivas, como o agronegócio e a celulose, e algumas empresas como a Weg, que consegue competir em nível global. Mas o Brasil precisa caminhar nessa direção, somos muito corporativistas, tanto no setor privado quanto no público. Todo mundo pensa muito no individual e muito pouco no coletivo", afirmou Setubal.
Após o Itaú registrar o maior lucro líquido já registrado por bancos brasileiros de capital aberto em 2019 - de R$ 26,583 bilhões -, Alfredo Setúbal elogiou a política econômica "desde o governo Michel Temer".
"Não se pode investir pensando no curto prazo. E nós sabemos que (a economia do) Brasil é um eletrocardiograma, nos acostumamos a isso. Mas, nos últimos anos, desde o governo Michel Temer, o juro real começou a cair – e, hoje, pelo menos para parte da sociedade, considerando a inflação, ele já é negativo", afirmou, ressaltando que "o Brasil não cresce muito porque sai da crise mais fragilizado, com a dívida subindo e pressão para aumentar gastos".
Trainee para negros
Alfredo Setubal ainda classificou como "provocação" a decisão do Magazine Luiza de abrir um processo de trainee somente para candidatos negros e disse que achou "muito bacana" a empresa não ter "medo de enfrentar" opiniões contrárias.
"Achei muito bacana. É uma empresa do século 21: usa tecnologia, se preocupa com diversidade, não tem medo de enfrentar (opiniões contrárias). O Frederico Trajano está no conselho do banco. Está super antenado, e fez essa provocação. Mostra que a empresa é moderna e vê real valor na diversidade".