Apontado pelo Ministério Público como "homem forte" do PCC (Primeiro Comando da Capital) no Paraguai, Levi Adriani Felício era responsável por lavar dinheiro, guardar armas e fornecer drogas para a facção no país, segundo relatório da Polícia Federal. Ele, no entanto, tinha certificado de colecionador de armas pelo Exército brasileiro, o que pode ter facilitado sua atuação ilegal junto ao grupo.
Felício tinha registro como CAC (colecionador, atirador e caçador), documento que tinha validade até 2016. O certificado assinado pelo Ministério da Defesa o permitia a colecionar, recarregar munição e fazer uso desportivo. De acordo com o UOL, a defesa de Felício diz que as armas apreendidas com ele em sua detenção, no Paraguai, estavam registradas.
O homem foi detido em 14 de outubro do ano passado em Assunção durante uma operação conjunta da PF brasileira e da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) do Paraguai. Atualmente, ele está preso em penitenciária brasileira.
A flexibilização da atuação dos CACs foi uma promessa de campanha do presidente Jair Bolsonaro. Em abril, o ex-capitão revogou portarias que determinavam um rastreamento mais rígido de marcação de armas e de munições. Em junho, ele voltou a prometer flexibilizações no Sistema de Fiscalização Produtos Controlados pelo Exército (SisFPC) e na Instrução Normativa (IN) da Polícia Federal.
Com o incentivo do governo Bolsonaro, o volume anual de novos registros CAC passou de cerca de 9 mil em 2014 para 148 mil em 2019. Nos seis primeiros meses de 2020, foram concedidos pelo Exército 75 mil registros do tipo, segundo dados compilados pelo Sou da Paz.