O cadáver que aparece em um vídeo postado pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) nesta terça-feira (18) pode não ser de ex-PM Adriano da Nóbrega. É o que diz o secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa.
"As imagens não foram feitas nas instalações oficiais do Instituto Médico-Legal. Então nós temos a clara convicção de que isso é para trazer algum tipo de dúvida, de questionamento, a um trabalho que ainda não foi concluído", disse o secretário ao Estadão.
Em sua postagem, Flávio Bolsonaro tentou reforçar sua tese de que o ex-chefe da milícia Escritório do Crime teria sido torturado na operação que o matou no início do mês. “Perícia da Bahia (governo PT), diz não ser possível afirmar se Adriano foi torturado. Foram 7 costelas quebradas, coronhada na cabeça, queimadura com ferro quente no peito, dois tiros a queima-roupa (um na garganta de baixo p/cima e outro no tórax, que perfurou coração e pulmões”, escreveu o senador na publicação com o vídeo.
De acordo com Barbosa, a única perícia oficial do corpo do miliciano aponta que ele foi morto por dois tiros de fuzil, disparados a, no mínimo, um metro e meio de distância, e o exame descarta que Adriano da Nóbrega tenha sido alvo de queimaduras ou coronhadas, como aventou o filho do presidente.
“Nós temos ainda um prazo para concluir a nossa investigação. Nós fomos instados a comentar o resultado da perícia, e foi claramente indicado pelo perito que não havia sinais de execução, nem sinais de tortura no corpo que foi avaliado”, completou o secretário.
O diretor do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, Mário Câmara, por sua vez, disse que foi surpreendido pelas imagens postadas por Flávio Bolsonaro e que não é possível analisar um vídeo que não foi autenticado pela perícia.
“Não sabemos se foi adulterado, onde foi feito, não sabemos se o corpo é realmente do senhor Adriano. Então não faremos comentários sobre o vídeo. O que eu posso dizer, é reiterar que o laudo pericial foi feito por um perito médico legal especialista na área, com formação e balística, muito experiente em casos como este”, declarou.
Flávio Bolsonaro era próximo ao miliciano e chegou a defendê-lo e homenageá-lo em diversas ocasiões.
Juiz nega nova necrópsia
A publicação de Flávio Bolsonaro vem apenas um dia após o juiz Gustavo Kalil, da 4ª Vara Criminal do TJ-RJ, ter decidido que a preservação do corpo de Adriano da Nóbrega, ex-chefe da milícia Escritório do Crime, não é mais necessária. Ele também entende que não há a necessidade de novas perícias.
Em decisão proferida nesta segunda, ele contraria determinação ditada por ele e por outros magistrados na última semana que entendiam que o corpo do miliciano deveria ser preservado.
Segundo o colunista Lauro Jardim, do O Globo, o juiz também entendeu que não há necessidade de uma nova necrópsia no corpo de Adriano. Enquanto alguns legistas avaliam – através de fotos obtidas pela Revista Veja – que a morte não aconteceu em troca de tiros, a perícia da Bahia reforça a tese.
Kalil, no entanto, não autorizou a cremação porque, segundo ele, isso cabe à a comarca de Esplanada, na Bahia, cidade onde o miliciano morreu.