Bolsonaro diz que índio troca “tora” de desmatamento ilegal por “cerveja”

Presidente questionou delegado da PF no AM se prática acontecia, tentando mais uma vez empurrar responsabilidade sobre crimes ambientais a indígenas; delegado da PF fez “sutil” correção, tentando não confrontar o chefe

Saraiva, da PF-AM, sorri constrangido ao responder Bolsonaro (Foto Reprodução)
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Depois de dizer que a origem de parte do fogo na Amazônia era de índios e caboclos que queimavam seu roçado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou à carga nesta quinta-feira (19), ao tentar imputar aos indígenas responsabilidade de parte do desmatamento ilegal no país.

Foi durante sua live semanal. O titular do Planalto prometera mostrar uma lista dos responsáveis pela prática na transmissão, mas não o fez. Em vez disso, voltou a criticar países da Europa e, então, tentou empurrar uma parte da culpa às comunidades tradicionais.

“Existe desmatamento ilegal, existe”, disse o presidente, olhando para o superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, que estava ao seu lado.

“Acho que existe até, Saraiva, alguns locais onde o índio troca uma tora [de madeira] por uma Coca-Cola ou uma cerveja. É possível, acontece isso?”, questionou Bolsonaro, olhando para o delegado.

Saraiva faz cara de dúvida no vídeo e abaixa a cabeça. Bolsonaro, olhando fixo para ele, insiste: “Ou próximo disso?”.

O policial federal então responde, com um sorriso meio constrangido. “Já aconteceu de a madeira em terra indígena ser negociada por valores pífios”.

E emendou: “Mas a grande causa do desmatamento é a fraude nos processos administrativos que foram gerados lá atrás. O ano que bateu todos os recordes de processos de autorização de desmatamento foi 2018. 2017 também foi um ano muito forte nessa questão”.

Nos dois anos, o presidente era Michel Temer (MDB), que chegou ao poder após o golpe do impeachment sobre a presidenta Dilma Rousseff (PT). Temer já admitiu em entrevistas que dá conselhos sobre a Presidência a Bolsonaro.