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A 23ª edição da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo assumiu o caráter de movimento político e de oposição ao governo Jair Bolsonaro, que tem um histórico de declarações consideradas homofóbicas. "Resistência" era a palavra mais repetida entre os participantes do evento, que teve início por volta do meio-dia neste domingo (23) e terminou por volta das 21 horas, segundo reportagem das agências de notícias Estadão Conteúdo e Efe.
Foi a primeira edição do evento primeiro desde o início do governo do presidente Jair Bolsonaro e que aconteceu apenas dez dias depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) tipificar a homofobia como crime. Nos trios elétricos, ativistas, artistas e políticos também criticaram o governo federal.
A expectativa da Prefeitura era de reunir três milhões de pessoas no evento. Não foi divulgado balanço oficial de público. Durante a última semana, a presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, Cláudia Regina Garcia, tinha dito que neste domingo as pessoas sairiam às ruas e os governantes entenderiam que "ninguém vai voltar para casa, pro armário ou para a senzala".
Com o tema, "50 anos de Stonewall - Nossas conquistas, nosso orgulho de ser LGBT+", a multidão acompanhou 19 trios elétricos durante mais de seis horas. Em uma grande festa e com forte tom político, diversos participantes levavam cartazes com frases como "A nossa arma é o amor", "Transformamos vergonha em orgulho" e "Ele não, fora Bolsonaro".
O prefeito de São Paulo, Bruno Covas, estava no evento e disse à imprensa que "o mais importante" é "mostrar ao Brasil e ao mundo" que a cidade "quer ser uma referência nos direitos humanos". Sem citar diretamente o nome de Bolsonaro, ele afirmou ser "muito triste" ver "casos como o da demissão" de um diretor de banco porque "contratou atores e atrizes LGBT para um comercial", em referência ao veto presidencial a uma propaganda do Banco do Brasil, que culminou com a demissão do então diretor de marketing da instituição, Delano Valentim, em abril.
Como parte do movimento da festa deste ano, a Prefeitura autorizou que alguns sinais de trânsito da Avenida Paulista exibissem casais homoafetivos no lugar dos bonequinhos que indicam se o pedestre pode atravessar ou deve aguardar. Além disso, vários edifícios colocaram decorações com as cores do arco-íris nas janelas e algumas faixas de pedestre foram coloridas.
Os primeiros discursos oficiais reforçaram o tom político. A ex-prefeita de São Paulo e ex-senadora Marta Suplicy afirmou que essa é "a mais importante Parada da história". "É a luta contra todo o retrocesso civilizatório que tem se apresentado", completou Marta, defensora histórica da pautas LGBT.
O deputado federal David Miranda (PSOL-RJ) também reforçou a ideia de que a Parada é um movimento político. "Esse é um movimento contra um projeto de poder que atenta contra as nossas vidas. Uma Parada que ganha mais importante porque temos um presidente declaradamente homofóbico", afirmou.
Família e apoiadores
Entre os participantes, muitas famílias que foram ao evento para apoiar filhos e amigos. "É a minha primeira vez. Eu era uma pessoa com muitos preconceitos. Meu filho me ensinou a ver a vida de outro jeito. Hoje estou aqui para apoiá-lo", comentou Lourdes Fragoso, de 66 anos.
A transexual Vanessa Leite, de 30 anos, levou a mãe para a parada LGBT. "Minha mãe é uma mulher evoluída. Ela não é juíza de ninguém. E me apoia", disse. Já Erundina Moreira, de 70 anos, mãe de Vanessa, retribuía a admiração da filha. "Tenho muito orgulho. Não admito que nenhum preconceituoso chegue sequer perto de mim".
"Sou hétero, mas estou aqui pelos meus amigos. Vivemos um período de perseguição e violência contra a comunidade gay. Não vou soltar a mão deles. Mexeu com eles, mexeu comigo", falou o engenheiro Hernandes Souza, de 32 anos.
Ex-soldados do Exército Brasileiro, os amigos Vitor Muniz e Mateuz Souza, de 23 anos, foram à Parada de farda e coturnos. "Somos as 'milicas do amor'", diziam. Era uma ironia em "homenagem ao presidente", segundo eles, que é capitão.
Os vendedores que atuam na Avenida Paulista também se adaptaram ao evento. Canecas, chocolates e adereços com referências às cores do arco-íris estiveram em alta. "Votei no Bolsonaro, mas não tenho nada contra ninguém. É preciso garantir o sustento da família", disse o ambulante Jorge Amadeus, de 40 anos, que vendia adereços para a cabeça.
Clima de carnaval
Depois dos primeiros discursos, a Parada ganhou ares de festa. Com a música alta, a Avenida Paulista e a Rua da Consolação viraram uma balada. "Dançar e beijar na boca também é político", gritou um rapaz para a reportagem - que tentou, mas não conseguiu ouvir o nome dele.
Muitos presentes se enfeitaram com purpurina e adereços na cabeça - uma coroa fornecida por um patrocinador era o mais comum. Por todos os lugares, pessoas eram vistas enroladas em bandeiras de arco-íris.
No posto médico, na Paulista, a maioria dos casos de atendimento era decorrente de excesso de consumo de bebidas alcoólicas. A reportagem flagrou duas pessoas procurando postos policiais para reclamar de furto de celular. Até o momento, a polícia não apresentou um balanço das ocorrências, mas policiais dizem que a "impressão" é de muitos casos de furto de celular.