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Padres jesuítas à frente do Santuário Nacional de São José de Anchieta recusaram no último dia 25 a indicação do missionário como patrono da educação, substituindo o educador Paulo Freire, nomeado por meio de lei em 2012. A nota divulgada nas redes sociais e assinada pelos padres Nilson Marostica, reitor do santuário, e Bruno Franguelli, vice-reitor, defende que “São José de Anchieta não pode ser usado com fins ideológicos”.
A publicação dos jesuítas é uma resposta ao projeto de lei 3.033/2019, de autoria do olavista Carlos Jordy (PSL-RJ), que pede a substituição de Paulo Freire por José de Anchieta como patrono da educação do país. Jordy justifica a troca afirmando que “Os testes internacionais em que o Brasil participa como medição de qualificação escolar, vem demonstrando a decadência do ensino nas escolas do país”, e que “Desde a adoção do método socioconstrutivista no Brasil, com linha de Lev Vygostsky, seguindo por Jean Piaget, e encabeçado no Brasil por Paulo Freire, o declínio da educação foi evidente”.
O texto do projeto traz ainda uma série de citações críticas a Freire copiadas de um texto publicado por Olavo de Carvalho em 2012, de autores norte-americanos e britânicos e publicadas entre 1972 e 1992, antes portanto, dos governos tucanos e petistas, acusados pelo atual governo de promoverem o chamado “marxismo cultural”.
Pedagogos ouvidos pela reportagem afirmam ainda que, apesar de serem estudados intensamente nas universidades brasileiras, não há um método universal de ensino aplicado nas escolas brasileiras que possa ser apontado como seguidor de Piaget ou Freire. Nem mesmo uma orientação superior, tratando-se de uma construção de caso de cada professor.
Na resposta ao projeto os padres que pertencem à mesma ordem do papa Francisco criticam o governo Bolsonaro: “Anchieta não pode ser proclamado patrono da educação em um momento em que a educação não parece ser prioridade na agenda do País (...) O primeiro indigenista não pode ser reverenciado neste tempo em que vemos tribos étnicas desamparadas e sendo perseguidas e até expulsas de suas terras. O primeiro defensor dos direitos humanos não pode ser levado aos altares da Pátria quando os indefesos são marginalizados e seus direitos, negados”, diz a nota.
O PL de Carlos Jordy encontra-se em tramitação na Câmara Federal, atualmente sob análise da Comissão de Cultura, anexado a dois outros projetos de deputados do PSL que propõem a revogação do patronato de Paulo Freire.
Nota publicada pelo Santuário Nacional de Anchieta:
[caption id="attachment_175561" align="alignleft" width="212"] Nota contrária à proposta de nomeação de Anchieta como patrono da educação brasileira em lugar de Paulo Freire, publicada nas redes sociais[/caption]
Recebemos com preocupação a notícia de que existe um projeto de lei que propõe São José de Anchieta como patrono da educação brasileira, para substituir Paulo Freire neste patronato. O padre José de Anchieta, merece, de fato, todo louvor e reconhecimento pelo imenso bem que fez pelo nosso Brasil, principalmente, no que se refere ao tema da educação. Anchieta, fiel ao carisma jesuítico, sabia que não era possível construir uma nação sem uma atenção especial pela educação. O primeiro professor do Brasil tinha certeza que o futuro de uma Nação dependia da qualidade do ensino de crianças e jovens. O Brasil, mais do que nunca, precisa prestar bem atenção no que o seu primeiro professor ainda tem a lhe ensinar.
No entanto, na atual conjuntura governamental do nosso país, não podemos aceitar que o legado de São José de Anchieta seja instrumentalizado para fins meramente ideológicos. Reconhecemos a imensa importância do legado de Paulo Freire para o Brasil e para o mundo. Tanto São José de Anchieta como Paulo Freire caminho na mesma direção. Ambos optaram por estar a serviço da educação dos marginalizados. Anchieta, com linguagem e métodos próprios de seu tempo, também foi um “pedagogo do oprimido” quando optou por estar ao lado dos indígenas, educá-los, defendê-los e protegê-los da ambição dos poderosos.
Anchieta não pode ser proclamado patrono da educação em um momento em que a educação não parece ser prioridade na agenda do País. O primeiro defensor do meio ambiente não pode ser admirado em um momento em que nossas riquezas naturais estão ameaçadas. O primeiro indigenista não pode ser reverenciado neste tempo em que vemos tribos étnicas desamparadas e sendo perseguidas e até expulsas de suas terras. O primeiro defensor dos direitos humanos não pode ser levado aos altares da Pátria quando os indefesos são marginalizados e seus direitos, negados. São José de Anchieta não pode ser usado com fins ideológicos. Pedimos respeito o seu valiosíssimo legado, que deve sim ser imitado, mas jamais manipulado.
Que nossa Senhora Aparecida e São José de Anchieta, Padroeiros do Brasil, intercedam pela nossa nação!
Anchieta, 25 de maio de 2019