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Um estudo conduzido pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em parceria com o Programa Nacional de Tuberculose e a Organização Mundial de Saúde (OMS), mostrou que a transferência de renda no Brasil por meio do programa Bolsa Família melhora em 8% as taxas de cura da tuberculose.
A doutora em epidemiologia Bárbara Reis-Santos, do Laboratório de Epidemiologia da Ufes, explica que o percentual de melhora, obtido por meio da aplicação de uma fórmula, representa apenas os efeitos diretos do Bolsa Família sobre a cura da tuberculose.
No entanto, há também os chamados efeitos indiretos, já que a transferência de renda influi sobre questões como comportamento, acesso à serviços de saúde e incidência de comorbidades (doenças simultâneas). A contribuição deles para a cura ainda não foi estimada.
“Acreditamos que esses efeitos indiretos são maiores do que os 8% do efeito estimado. Os próximos passos de nossos estudo serão estimar esses efeitos indiretos para apresentarmos o efeito total do programa no desfecho do tratamento da tuberculose”, afirma a pesquisadora.
Bárbara destaca, ainda, que os resultados obtidos até agora sugerem que o fato de homens terem mais chance que as mulheres de não se curarem não tem a ver com diferenças biológicas.
“Vimos que, na população total, homens, quando comparados com mulheres, têm maior probabilidade de não se curarem ao final do tratamento. Mas será que isso é algo da biologia do homem? Na análise apenas com o grupo que recebe benefício [de transferência de renda] essa probabilidade desapareceu”, diz a pesquisadora, que elenca algumas razões que explicariam isso.
“Sabemos que o benefício, pelo acompanhamento próximo das famílias, melhora comportamentos relacionados à saúde. Assim, os resultados sugerem que os piores desfechos no tratamento da tuberculose para os homens não é por conta de questões biológicas, mas sim por questões relacionadas ao comportamento as quais podem ser superadas pelo recebimento do benefício e o cumprimento das condições relacionadas a ele, como imunização das crianças e acompanhamento pré e pós-natal, mesmo não sendo específicos para o tratamento da tuberculose”, ressalta a pesquisadora.
De acordo com Bárbara, a mesma lógica se aplica quando se fala de diferenças regionais nos resultados do tratamento. “O que faz uma pessoa que mora nas regiões Norte ou Nordeste curarem menos do que pessoas da região Sudeste? Será uma característica das pessoas desses locais ou há alguma diferenças nos recursos para a realização do tratamento? A região Sudeste possui uma concentração de serviços de saúde muito maior e, consequentemente, as pessoas que vivem nesses locais possuem diferentes barreiras para acessar os serviços de saúde. Ao implementar um programa que aproxima as pessoas dos serviços de saúde, as diferenças entre as regiões desaparecem”, comenta.