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Por Marcos Cesar Danhoni Neves*
“O militarismo é uma espécie de nódoa nas grandes realizações da civilização moderna. Heroísmo encomendado, violência regulamentada, patriotismo arrogante tornam vil e abominável qualquer guerra de agressão. Por minha parte preferia ser fuzilado a tomar parte numa luta desse tipo”
“Detesto, de saída, quem é capaz de marchar em formação com prazer ao som de uma banda. Nasceu com cérebro por engano; bastava-lhe a medula espinhal”.
(Albert Einstein)
Infelizmente Maringá tem fornecido material humano, ideias e políticas que a tornam assustadoramente famosa no Brasil pelo seu alto grau de reacionarismo e fascismo. Não bastasse a partidarização da Justiça levada adiante pelo Juiz fascista Sergio Moro e às desastradas políticas do casal Barros-Borghetti, e ao canino defensor de Ricardo Barros, Luiz Nishimori, com sua PEC do Veneno (que liberou agrotóxicos proibidos na maior partes dos países no mundo), agora temos a apropriação de escolas públicas por forças militares que transformam o espaço público num ambiente militarizado e fomentador do discurso de ódio baseado na “disciplina” que indisciplina a construção da cidadania plena.
Reconhecemos o papel das forças de segurança para qualquer democracia, mas transformar espaços públicos de escolas de ensino fundamental e médio em espaços de formação de soldados é colaborar para a destruição do futuro de uma Nação.
Em Maringá, as duas escolas-vítimas são: Escola “Maria Balani”, que infelizmente já se transformou numa espécie de caserna, e o tradicional Colégio “João XXIII”.
A transformação de uma escola pública de ensino fundamental para uma escola de formação de policiais militares no Paraná encontrou na histórica escola, cujo nome era devotado a uma das primeiras professoras do município (na foto, a turma de 1949), Maria Balani, o primeiro centro experimental de desalojamento de crianças para substituição do processo pedagógico formador de seres pensantes em ambiente árido de “formador” de adultos no processo baseado na disciplina militar e na repressão.
[caption id="attachment_139213" align="alignnone" width="500"] Foto: Arquivo[/caption]
Essa transformação liquidou uma escola localizada num bairro de periferia da cidade, alijando sua população original, já ameaçada pela acentuada especulação imobiliária, pelo parasitismo de espaços públicos e dominado pelo discurso de repressões militares na cultura de ódio que vem dominando o país, especialmente acentuados após o golpe parlamentar-jurídico-midiático-militar de 2016, que depôs uma presidenta honesta do poder.
A destruição e transformação da Escola Maria Balani deram-se durante o governo municipal de um dos clãs dos Barros, Silvio Barros II (sic – isso mesmo..., tem algarismo romano como nome e sobrenome...), e sob os auspícios de uma Associação notória no apoio ao golpe de 2016, e extremamente conservadora: ACIM (Associação Comercial e Industrial de Maringá), durante o ano de 2010.
Agora, infelizmente, com apoio, segundo chegou-me de informação, da Diretoria da própria escola, o tradicional Colégio João XXIII também se prepara para ser aniquilado como espaço para a formação de seres pensantes e sua transformação radical para escola-caserna, formadora de mentes repressoras e despóticas.
O que é mais triste é que a escola deve seu nome a um dos papas mais populares da História contemporânea do Papado, pois foi ele, em seu curto período no Vaticano, que introduziu reformas na ultraconservadora Igreja católica, mediante o Concílio Vaticano II, em direção a uma necessária revisão do trabalho da Igreja e sua preocupação para os pobres e excluídos, para a liberdade religiosa e o ecumenismo. Por essa razão foi chamado de “O Papa Bom”, sendo declarado Beato décadas mais tarde. Escrevo isso porque o nome JOÃO XXIII opõe-se radicalmente a qualquer ideia militar, pois o ambiente formador de soldados semeia não a vida, mas a morte e a repressão e jamais deveria ocupar um espaço público e formador necessário do Humanismo.
Esta militarização de espaços escolares em Maringá é uma meta para todo território nacional e como forma de retaliar o movimento OCUPA ESCOLAS que teve, no Paraná, sua gênese mais fecunda e que depois irradiou-se para todo país, e, também, como forma de implantar o discurso de ódio advindo do golpe de 2016. Este discurso se apoia na deformação da narrativa dos profundos problemas brasileiros, agravados com o golpe, como causalisados pela violência urbana (quando, sabemos, que essa é consequência da deterioração dos direitos trabalhistas, das políticas sociais, do fechamento de escolas de todos os níveis).
Em Maringá, a repressão a escolas chegou a um tal paroxismo, que além da militarização, houve tentativas de extinção de escolas, como por exemplo, o “Gerardo Braga”. A ameaça de fechamento dessa escola tradicional foi defendida pelo odioso governador Beto Richa e seu lambe-botas, Romanelli, devido ao belo movimento de Ocupa Escolas há cerca de 3 anos. O mesmo ocorreu com as ameaças à escola “Milton Santos” de agroecologia (homenagem ao nosso mais nobre pensador das questões da geografia humana brasileira e do pensamento crítico).
Há 3 dias foi noticiada, até na imprensa PIG, os despropósitos do Programa de um certo candidato Nazi-Fascista à presidência do país em transformar as escolas em casernas militares baseadas na disciplina rígida e na censura da criação, da inventividade e da liberdade humana. Esta “meta”, vinda de um deputado que votou pela PEC que sustou investimentos na Educação, p.ex., nos próximos 20 anos, e da Deforma do Ensino Médio, elevará o custo em três vezes mais na “formação” de um aluno-militar em relação a um aluno normal na sociedade brasileira.
Estamos destruindo o futuro de nossas crianças e de nossos jovens com discursos e práticas de ódio levadas adiante pelos golpistas de 2016. Estamos construindo, ao estilo ocidental, as madrassas que criaram os talibãs no Afeganistão e o Exército Islâmico no Iraque. Sem uma ideologia baseada na liberdade, estaremos fadados a construir cadafalsos para matar os outros e a nós mesmos!
Delenda arbitrium!!!
*Marcos Cesar Danhoni Neves é professor titular da Universidade Estadual de Maringá, autor do livro “Lições da Escuridão”, entre outras obras