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A desembargadora Marília Castro Neves escreveu uma mensagem para pedir desculpas à memória da socióloga e vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e à professora Debora Seabra por ataques publicados em suas redes sociais. Ela disse que Marielle teria ligações com bandidos do Comando Vermelho. Em relação à professora, ela menosprezou sua capacidade de exercer seu ofício, segundo informações de O Globo.
Em seu perfil no Facebook, Marília publicou uma mensagem em que assumiu ter errado. Ela começou os pedidos de perdão com um trecho dedicado a Débora Seabra, do Rio Grande do Norte, primeira professora brasileira com Down, que, após ser criticada pela magistrada, lhe escreveu uma carta de resposta: “Estou escrevendo para agradecer a carta que você me mandou e lhe dizer que suas palavras me fizeram refletir muito. Bem mais do que as centenas de ataques que recebi nas últimas semanas”.
A desembargadora, na mesma publicação, também endereça uma mensagem à família de Marielle. Ela afirmou: “aproveito o ensejo para também me desculpar à memória (sic) da vereadora”. Marília reconheceu que reproduziu, “sem checar a veracidade, informações que circulavam na internet”. “No afã de rebater insinuações, também sem provas, na rede social de um colega aposentado, de que os autores seriam policiais militares ou soldados do Exército, perdi a oportunidade de permanecer calada”. “Nesses tempos de fake news, temos que ser cuidadosos”, concluiu.
Acompanhe a íntegra da mensagem:
Prezada professora Débora,
Estou escrevendo para agradecer a carta que você me mandou e lhe dizer que suas palavras me fizeram refletir muito. Bem mais do que as centenas de ataques que recebi nas últimas semanas. Desculpe a demora na resposta, mas eu precisava desse tempo.
Tenho sofrido muito desde que fui atropelada pela divulgação de comentários meus, postados em grupos privados - restritos a colegas da magistratura. Mas alguém resolveu torná-los públicos. Alguns haviam sido postados há tanto tempo que eu nem me lembrava deles. A repercussão foi imensa.
Desde então decidi me recolher. Chorei, fui abraçada e pensei muito.
E de tudo que li e ouvi a meu próprio respeito, foi de você, de quem em um primeiro momento duvidei da capacidade de ensinar, que me veio a maior lição: a de que precisamos ser mais tolerantes e duvidar de pré-conceitos.
Minhas posições pessoais jamais interferiram nas minhas decisões, conhecidas por serem técnicas e, por isso mesmo, quase sempre acompanhadas unanimemente pelos meus colegas de turma julgadora.
Hoje, contudo, percebi que, mesmo quando meu corpo despe a toga, a mesma me acompanha aonde eu for.
As opiniões pessoais de um magistrado, uma vez divulgadas, sempre terão peso, pouco importando ao Tribunal das redes sociais que tenham elas sido ditas em caráter público ou privado e que opinião não seja sentença.
Magistrados também erram e, quando o fazem, incumbe-lhes desculparem-se. Esta carta é justamente isso: um pedido de perdão.
Perdão, Débora, por ter julgado, há três anos atrás, ao ouvir de relance, no rádio do carro, uma notícia na Voz do Brasil, que uma professora portadora de Síndrome de Down seria incapaz de ensinar. Você me provou o contrário.
Aproveito o ensejo para também me desculpar à memória da vereadora Marielle Franco por ter reproduzido, sem checar a veracidade, informações que circulavam na internet. No afã de rebater insinuações, também sem provas, na rede social de um colega aposentado, de que os autores seriam policiais militares ou soldados do Exército, perdi a oportunidade de permanecer calada. Nesses tempos de fake news temos que ser cuidadosos.
Estendo esta reflexão ao deputado Jean Wyllys. Sempre me oporei às suas ideias e às do PSOL, nada mudará isso, mas é evidente que não desejo mal a ninguém.
Obrigada, Débora, por ter me ensinado tanto.
Marília Castro Neves Vieira