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Aos 31 anos, Iderlan de Souza passou boa parte de sua vida dividindo os poucos alimentos providos pela mãe, lavradora, com mais nove irmãos. Vivendo sob o sol escaldante, enfrentando a seca e a fome comuns na caatinga nordestina no interior do Piauí, é uma exceção exemplar de superação. Ele foi o primeiro da família a entrar na faculdade e se formou em arqueologia em 2016. Depois passou em primeiro lugar no mestrado da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Portugal. O curso, de arqueologia pré-histórica e arte rupestre, é formado por um consórcio de seis universidades europeias e faz parte do programa Erasmus Mundus. As informações são de Marina Estarque, da Folha de S.Paulo.
Iderlan nasceu dentro do Parque Nacional da Serra da Capivara, que tem a maior concentração de sítios arqueológicos das Américas. Ele entrou na faculdade e se formou em arqueologia pela Universidade Federal do Vale do São Francisco, criada nos anos 2000 para atender o semiárido, com campi em três Estados do Nordeste. A monografia dele foi sobre a relação entre o homem e a megafauna e foi considerada inovadora.
A mãe e os irmãos mais velhos trabalhavam na roça, cultivando a terra de outras pessoas. Por ser o mais jovem, Iderlan foi poupado. “De certa forma eu tive mais oportunidade, só fui para a roça com 16 anos”, diz. Mesmo assim, o trabalho atrapalhou os estudos. “Tive alguns atrasos para terminar o ensino médio”, explica. Com o tempo, os irmãos cresceram e migraram para outras cidades. As irmãs ficaram e seguraram as pontas.
Sua mãe mal frequentou a escola. “Ela diz que não sabe ler, mas me ensinou o alfabeto. Quando ela se esforça, consegue descobrir as palavras”. Desde que soube do resultado, Iderlan tem juntado dinheiro para a viagem. Ele trabalha atualmente como guia no parque e ganha em média R$ 2 mil por mês. Pretendia viajar em 2017, mas não conseguiu pagar o curso a tempo e perdeu o ano.
“Tenho que pagar o curso, fora os gastos lá. A vaquinha está indo bem, já arrecadou R$ 5.800, não esperava”, afirma. Sua mulher e o filho, de sete anos, também dão força para a iniciativa. Mesmo com o apoio de colegas, familiares e com o reconhecimento dos pares, a mãe de Iderlan ainda tem dúvidas sobre a profissão do filho. “Ela fica muito orgulhosa com a minha luta, mas não entende bem a importância da minha área. Acha que só a graduação já está bom, não precisa de mestrado”, conta ele, sorrindo.
Com informações da Folha de S.Paulo
Foto: Arquivo Pessoal