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Um dos principais especialistas do setor no Brasil, Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública e ex-coordenador de Segurança, Justiça e Cidadania do Rio de Janeiro, analisou, para a Fórum, as causas e consequências do plano para assassinar o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ).
A Polícia Civil interceptou, nesta quinta-feira (13), uma trama de milicianos com o objetivo de eliminar o parlamentar neste sábado (15). Freixo participaria de uma atividade pública com militantes e professores da rede particular de ensino em Campo Grande.
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“Nós vivemos um momento em que a violência extrema foi triplamente autorizada. Em primeiro lugar, pela impunidade, relativa ao assassinato de Marielle (Franco) e Anderson (Gomes). Autorizada, tacitamente, pelo tom adotado pelo candidato à presidência vitorioso (Jair Bolsonaro), tom que insinuava a aprovação, inclusive, de execuções extrajudiciais, como ficou claro em seu eco regional na voz do então candidato Witzel (Wilson), hoje governador eleito do Rio de Janeiro, que não hesitava em referir-se à abate de criminosos, abate de suspeitos”, avalia Soares.
“Em terceiro lugar, com a autorização, também, pelo clima que nós vivemos, que é uma atmosfera marcada pelo ódio, pela radicalização dos antagonismos e pelo verdadeiro genocídio de jovens negros e pobres nas periferias e favelas do Rio de Janeiro, que vem se reproduzindo ao longo das últimas décadas e vem se intensificando no Rio, se intensificando, particularmente, desde a intervenção federal militar no estado”, acrescenta o antropólogo e cientista político.
Uma das consequências desse cenário, segundo Soares, é a descoberta do plano para matar o deputado do PSOL. “Se nós respiramos esse ar, é crível, é verossímil que uma trama assim repulsiva e assombrosa se tenha urdido, se tenha engendrado, visando o assassinato de Marcelo Freixo”.
Único movimento
Além disso, a situação merece mais uma observação de Soares: “Se essa trama tivesse sido descoberta há muitos meses, há nove meses, na oportunidade do assassinato de Marielle, nós poderíamos imaginar que se tratava de um único movimento por assim dizer, de um único gesto, de uma única ação, ainda que com dois alvos distintos: Marielle e Anderson, de um lado, e Marcelo, de outro”.
No entanto, para o cientista político, depois de tantos meses, a reiteração de uma trama desse tipo torna tudo isso muito mais “assustador, porque todos aqueles elementos que eu mencionei antes se mostram efetivamente ativos e ativados pelo contexto político contemporâneo ou conjuntural, momentâneo. Político porque há, sim, política nessas decisões do crime, se é que são decisões daquilo que chamamos, propriamente, de crime, se é que não são políticos os agentes que decidem praticar o crime, nesse caso em particular”, completou.
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