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Pesquisador traçou a história e os caminhos da permacultura no Brasil. Os resultados você pode conferir aqui
Por Djalma Nery, em seu blog
No começo dos anos 1990, um gaúcho em viagem pela Nova Zelândia recebeu um pedido de um amigo, agrônomo e funcionário da prefeitura de Porto Alegre sob a gestão de Olívio Dutra. O amigo lhe pedia, dada a oportunidade, que desse um pulo na Austrália (mas especificamente ao sul daquele país, na Tasmânia) para fazer um convite a um homem chamado Bill Mollison, um dos criadores da permacultura ao lado de David Holmgren, com quem publicou o primeiro livro sobre o assunto em 1978.
Ananta Alano (o gaúcho viajante) aceitou o pedido e lá se foi, bater à porta da fazenda Tagari, casa de Bill e sua família. O australiano ouviu atentamente ao convite mas declinou: convidavam-no para ir ao Brasil ministrar uma palestra como parte dos eventos em comemoração ao dia da árvore. Parecia-lhe um tanto absurdo cruzar o planeta para dar uma palestra. Bill agradeceu a visita mas frisou que só iria no caso de se organizar algo um pouco maior, como um curso ou um PDC (Permaculture Design Certificate Course), com o intuito de formar uma turma de precursores da permacultura no país.
Ananta então passou o recado e seguiu sua viagem após o encontro com aquele curioso homem. Alguns meses depois, ao retornar ao Brasil, o amigo funcionário da prefeitura lhe contou que seguira em diálogo com Bill a distância, e que haviam combinado então o tal curso para uma turma de aproximadamente 30 pessoas, no Viveiro do Horto Municipal de Porto Alegre, localizado, à época, em Viamão. E foi assim que o primeiro PDC, ministrado por Bill Mollison e Scott Pittman (com tradução de Marsha Hanzi), veio a acontecer no Brasil, em meados de 1992, inaugurando toda uma trajetória que se desdobraria daí.
Logo nos primeiros dias, Ananta (que fez questão de participar do curso) observou que os quartos em que foram hospedados os visitantes (dentro do próprio horto) eram um tanto precários, e logo os convidou para ficarem em sua casa, o Sítio Pé na Terra, nos arredores dali. Ananta conta então que teve o prazer de conviver mais de perto com Bill, e absorver um pouco daquele conhecimento pulsante através das inúmeras conversas, dicas e sugestões do australiano para incorporar ao sítio elementos da permacultura. Conta ainda ter tido a sorte de que o voo de Bill para Colômbia (onde daria outro curso) houvesse sido adiado devido a questões climáticas, o que lhe concedeu mais 3 dias daquela ímpar convivência.
Durante essa estada muitos foram os planos, e, inclusive, foi fundado aquele que seria o primeiro instituto brasileiro: o Instituto Gaúcho de Permacultura, com sede no Sítio Pé na Terra e aporte financeiro do próprio Bill. Infelizmente a iniciativa não vingou, mas outros institutos surgiram posteriormente, dando sequência a essa história que se desenrola até hoje.
Foram vários os caminhos na difusão dessa ‘cultura da permanência’ pelo Brasil. Cursos, formações, grupos, redes, institutos; encontros, desencontros, uniões e rompimentos. Qualquer tentativa de sistematizar toda essa história seria incompleta e parcial. Mesmo assim, um esforço nesse sentido pode contribuir para chamar a atenção ao tema, espalhar o conhecimento e suscitar importantes debates.
Foi para isso que dediquei meus últimos 4 anos de pesquisas como aluno de mestrado do PPGI-EA (Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ecologia Aplicada) da USP/CENA, com orientação da prof.ª Laura Alves Martirani. Esse trabalho, intitulado “CAMINHOS E PERSPECTIVAS PARA A POPULARIZAÇÃO DA PERMACULTURA NO BRASIL” tem como objetivos: traçar um breve histórico da chegada e desenvolvimento da permacultura no país; apresentar um mapeamento atualizado de grupos e iniciativas; e fazer uma análise crítica do movimento, no sentido de buscar a difusão e democratização do conhecimento, entendendo a permacultura como uma ferramenta de transformação social ampla e profunda.
Durante a pesquisa, visitei diversos centros de permacultura; entrevistei dezenas de pessoas engajadas na causa; e recebi contatos e respostas de centenas de grupos e indivíduos interessados em participar.
Algumas das questões levantadas no trabalho são, por exemplo, o envolvimento da permacultura com movimentos sociais e entidades do terceiro setor no Brasil; a força de influenciar políticas públicas; e o engajamento militante de seus praticantes em diversas outras ações. Além disso, a dissertação apresenta análises geográficas, etárias e sociais dos seus principais atores.
Para quem quiser saber mais, deixo aqui em primeira mão o link para o download do trabalho na íntegra, que em breve estará disponível nos portais da USP.
Gostaria muito de ouvir a crítica de vocês, e deixo esse espaço à disposição para isso. Deixe sua crítica e comentário para que possamos dialogar e evoluir em trabalhos posteriores! Existe uma imensa demanda por vários outros enfoques dentro desse universo e inúmeros caminhos abertos para pessoas interessadas no tema.
Etapa 2: o livro
Agora, com o intuito de dar mais alcance a esses resultados e contribuir para a difusão da permacultura no Brasil, estou transformando isso tudo em um livro com conteúdos exclusivos; linguagem mais acessível; e em formato esteticamente agradável e interessante. Para viabilizar a sua publicação, criei uma campanha de financiamento coletivo de pré-venda da obra. A ideia é reunir os custos mínimos para rodar uma tiragem de 1.500 exemplares, contabilizando custos de diagramação, impressão, capa, revisão, distribuição, etc!
O título do livro será: “UMA ALTERNATIVA PARA A SOCIEDADE: Caminhos e perspectivas da permacultura no Brasil” e será publicado (se tudo der certo) em meados de novembro desse ano (336 páginas, formato 16x23cm, encadernação brochura).
Para isso preciso atingir a quantia mínima até dia 10 de outubro. Caso eu consiga atingir uma segunda meta financeira, o livro será traduzido também para o inglês e o espanhol, e farei um lançamento na Convergência Internacional de Permacultura, na Índia.
Uma versão resumida digital da obra será disponibilizada gratuitamente após o término da campanha.
Por isso conto com o engajamento de todas as pessoas envolvidas e interessadas em permacultura – trata-se de um primeiro trabalho aprofundando sobre o tema no país! Participe dessa história e seja um dos benfeitores e apoiadores desse livro!
Divulgue e colabore com a campanha:
https://benfeitoria.com/permaculturabr