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Senador Cristovam Buarque escreve em seu site: "Criamos nossos próprios obstáculos que nos amarram. A principal causa disto tem sido a dominação das estruturas sociais pelas elites". E, contraditoriamente, vota junto com as elites mais reacionárias deste país
Por Frédi Vasconcelos Imagem: reprodução Twitter
Em texto em seu site (leia na íntegra aqui), o senador Cristovam Buarque tenta justificar por que votou a favor da reforma trabalhista do governo Temer. Num texto confuso, em que começa na escravidão, passa pela revolução industrial e vem até os dias atuais, argumenta que
"não temos conseguido acompanhar o progresso dos países ricos, com elevado nível civilizatório, porque sempre nos recusamos a fazer as reformas que toda sociedade necessita para ajustar-se às transformações que ocorrem no mundo: fugimos do progresso como uma nação conservadora, presa ao passado. Criamos nossos próprios obstáculos que nos amarram. A principal causa disto tem sido a dominação das estruturas sociais pelas elites. A falta de sentimento nacional e de compaixão de nossa elite nos fez manter o obstáculo do latifúndio e da escravidão, amarrando nosso progresso...
Faltou explicar por que se aliou com essa mesma elite, numa emenda apoiada por elas, que retira direitos dos trabalhadores. Como se as leis trabalhista é que emperrassem o desenvolvimento do País, não a ação das elites que critica e apoia.
Em outro trecho diz:
Mas continuamos um país sem produtividade elevada, com reduzidíssima capacidade para a inovação, com um número estável ou crescente de cidadãos analfabetos, incapazes até de ler a palavra progresso escrita na bandeira, uma sociedade com a pobreza persistente que não reduz a concentração da renda, sem educação, imersa na violência e na corrupção. Esses são os obstáculos que nos amarram e nos condenam ao fracasso como país.
Faltou explicar como as reformas aprovadas ontem vão ajudar a diminuir o analfabetismo ou a pobreza, se as medidas concentram ainda mais riqueza e diminuem os direitos dos mais pobres. E como sairemos da corrupção se participou do golpe contra a presidente Dilma e está na base de apoio a um presidente denunciado por corrupção passiva.
Sobre o trabalhador ter de fazer até 12 horas por dia e compensar num banco de horas, tal qual Pollyana, a personagem que era otimista e enxergava tudo cor de rosa, escreve:
O trabalhador, em acordo com o empregador, poderá definir a estrutura das férias e mesmo o número de horas de trabalho a cada dia, aumentando até o limite de 12 horas em um dia e usando um banco de horas para reduzir a jornada em outros dias, como diversas categorias já fazem depois de conquistarem este direito que a reforma agora oferece a todos.
Não se sabe em que mundo o senador vive, mas a reforma não foi feita para dar ao trabalhador o direito de trabalhar a hora que quiser. Ao contrário, terá de ficar até doze horas num dia que tiver mais trabalho e compensar quando o patrão quiser.
Sobre o trabalho intermitente, que pode fazer uma pessoa ganhar menos que o salário mínimo, escreve:
Sou favorável ao que se está chamando de trabalho intermitente porque ele será a base para a contratação de trabalhadores desempregados e subempregados por empresas que não precisam do trabalhador em caráter permanente. Daqui para frente, querendo ou não, o trabalho deste tipo será cada vez mais frequente.
Com 14 milhões de desempregados, não é preciso dizer que a pessoa vai se sujeitar às piores condições possíveis e trabalhar algumas horas por dia ou na semana, acabando, na prática, com o salário mínimo.
E como quem faz acordo com o demônio esquece que é traído e tem de entregar a alma, escreve:
O presidente da República enviou ao Senado Federal, na pessoa de seu Líder, carta assumindo o compromisso de vetar questões apontadas pelo relator da reforma, senador Ricardo Ferraço e, concomitantemente a editar Medida Provisória contendo as modificações que forem negociadas entre os parlamentares, seu relator e o Líder do governo no Senado.
Hoje, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já declarou que não aprovará medida provisória nenhuma. O presidente do Senado, Eunício Oliveira, também já disse que não participou de nenhum acordo para mudar pontos controversos (leia aqui).