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A região da Luz, por sua localização privilegiada e grande número de equipamentos públicos e culturais, é vista com ganância por especuladores e ações, como as feitas por Alckmin e Doria. Elas parecem, pela forma e pelo conteúdo, com o objetivo claro de "limpar" a área para a entrada das construtoras, com uma verdadeira faxina humana e sem preocupação com o futuro das pessoas atingidas e mesmo com outras regiões já consolidadas e prejudicadas com o deslocamento de moradores das ocupações e usuários de drogas
Por Alencar Santana Braga*
A ação truculenta de Alckmin e Doria, ocorrida na manhã do domingo (21) na região da Luz, na capital, em uma área conhecida como Cracolândia, foi uma verdadeira tragédia.
Tanto no ponto de vista humano quanto de ação política: a extrema violência foi o parâmetro principal, inclusive com a derrubada de imóveis com moradores dentro, causando feridos e desabrigando famílias, gerando não somente a comoção da opinião pública, como duras críticas de entidades e de conselhos e profissionais de áreas correlatas, como o de Psicologia, Medicina, Assistência Social e Arquitetura e Urbanismo.
Tanto nas redes sociais quanto na imprensa, o Governador e o Prefeito de São Paulo foram duramente criticados por agirem sem um planejamento adequado e sem garantirem a devida comunicação com secretarias envolvidas diretamente em trabalhos na região, bem como dispersarem centenas de dependentes químicos para outras regiões da capital, sem qualquer tipo de cadastramento, oferta de alternativas eficazes ou mesmo apoio psicossocial.
Doria, depois das críticas, chegou inclusive a fugir da imprensa. Se antes fazia questão de estar à frente de tudo e fazer vídeos e entrevistas, depois das críticas, se escondeu e colocou secretários e subordinados para falar em nome da Prefeitura, atitude que gerou conflitos internos e influenciou o pedido demissão da Secretária de Direitos Humanos, Patrícia Bezerra.
Ainda, a Defensoria Pública e o Ministério Público Estadual criticaram duramente a ação e obtiveram, na Justiça, o impedindo da continuidade dessa verdadeira caçada humana protagonizada por Alckmin e Doria.
Passada uma semana, sem atitudes concretas de Alckmin e Doria para solucionar o problema que eles mesmo causaram, outro movimento do Governador chamou à atenção:
Neste domingo (28), moradores da Favela do Moinho - localizada também na região da Luz, entre os trilhos das linhas 7 e 8 da CPTM, e uma das maiores ocupações do Centro Expandido - relataram um forte aparato policial "com fuzis e metralhadoras" tomando conta da comunidade e , de "surpresa", a visita do Governador acompanhando de seguranças e assessores ao local. Segundo relatos, Alckmin não falou com quase ninguém e não trouxe nada de bom para a comunidade, que há tempos pede assistência dos governos estadual e municipal e já passou por dois grandes "incêndios", um deles desabrigando cerca de mil famílias.
Segundo assessores, Alckmin estuda ações de habitação para o local. Argumento parecido com o dado por Doria, sobre a região da Cracolândia, para onde afirmou ter um "plano" de revitalização, mas não deixou claro como será e quem irá fazer parte do processo.
A pergunta que fica, portanto, é quais são os planos de Alckmin e Doria? Será em benefício dos atuais moradores e comerciantes da função social do solo urbano, conforme diz o Estatuto da Cidade, ou em benefício da especulação imobiliária e dos movimentos de gentrificação urbana?
A região da Luz, por sua localização privilegiada e grande número de equipamentos públicos e culturais, é vista com ganância por especuladores e ações, como as feitas por Alckmin e Doria. Elas parecem, pela forma e pelo conteúdo, com o objetivo claro de "limpar" a área para a entrada das construtoras, com uma verdadeira faxina humana e sem preocupação com o futuro das pessoas atingidas e mesmo com outras regiões já consolidadas e prejudicadas com o deslocamento de moradores das ocupações e usuários de drogas.
Este tem sido o modelo de trato social dos governos tucanos, sempre beneficiando o capital e a iniciativa privada e deixando de lado a função social do Estado e os direitos humanos, demonstrando uma nefasta lógica contrária às populações mais pobres e em condição vulnerável, considerada lixo humano para eles.
*Alencar Santana Braga é Deputado Estadual e Líder do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo