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O pavimento novo, preto, esconde totalmente um longo trecho de ciclovia, o que já faz com que carros subam a via ocupando o espaço anteriormente destinado às bicicletas
Por Willian Cruz, no Vá de Bike
Recebemos nessa quarta-feira, 22 de março, diversos relatos e fotos sobre uma aparente retirada de ciclofaixa na região do Morumbi, na rua Dr. Fausto de Almeida Prado Penteado e na Av. Amarílis. A ação, que está sendo justificada como “tapa-buraco”, está colocando em risco a vida de quem se locomove de bicicleta no local.
O pavimento novo, preto, está escondendo totalmente um longo trecho de ciclovia, o que já faz com que carros subam a via ocupando o espaço anteriormente destinado às bicicletas. Isso representa um grave risco a quem desce a ciclovia no contrafluxo, pois a faixa de repente desaparece embaixo do novo asfalto, com carros subindo de frente para os cidadãos desavisados que descem o local em bicicleta.
Remoção virou “manutenção”
Apesar de se tratar de uma alteração na sinalização viária, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) não participou do processo. Tanto que o órgão nos pediu para entrar em contato com a Secretaria Municipal das Prefeituras Regionais. A Secretaria respondeu, por meio de nota e em nome da Prefeitura Regional Butantã, que “a rua em questão vem passando por serviços de manutenção do pavimento, como operação tapa-buraco, com a massa asfáltica cobrindo parte da ciclofaixa”. Informou ainda que “ao término do trabalho a pintura da ciclofaixa será refeita” e que “as placas indicativas foram retiradas para limpeza, pois estavam pichadas e também serão reinstaladas”.
Mas por que, então, os tachões foram retirados? Houve uma retirada completa de sinalização, tanto horizontal (pintura, tachões, olhos de gato, balizadores) como vertical (placas). Se a empresa que faz o recapeamento não é a que faz limpeza de placas, qual a chance ou a necessidade disso acontecer simultaneamente? As placas poderiam ser limpas sem ser retiradas, já que isso caracteriza uma alteração de sinalização viária. Cidadãos que passam com frequência pela região afirmam que as placas não estavam pichadas (e, ainda que estivessem, não seriam todas elas), portanto por que retirar todas as placas?
O leitor Pedro Borelli chegou a ligar no setor de obras da regional Butantã na tarde dessa quarta. Segundo ele, um funcionário de nome Jorge, que seria responsável pelo setor, confirmou a retirada neste trecho, contrastando com a declaração oficial, que seria emitida algum tempo depois. “Quando questionei se ela seria interrompida ali então sem recolocação ele disse que sim, da mesma maneira que mais abaixo, onde tem as curvas. Ele disse que estava perigoso um carro de frente pro outro nesta subida, que vão mudar sinalização e que não cabe ciclofaixa lá.” Tentamos contato com o setor no final da tarde, pouco antes das 18h, mas ninguém atendeu.
Ação desrespeita legislação
A Ciclocidade (Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo) emitiu uma nota no início da noite, onde aponta que a retirada dos tachões e das placas de sinalização requer autorização do órgão de trânsito (CET) e que não está claro se isso ocorreu. “Também não há certeza de que a estrutura voltará a ser pintada”, diz o texto.
“O procedimento para recapeamento de rua e remoção dos tachões requer a ciência e a autorização da CET, segundo o Código de Trânsito Brasileiro (Lei Federal 9.503/97)”, reforça o texto. “Até o início da tarde, a CET não parecia saber da operação em andamento. Ainda não é de conhecimento público, portanto, quais as datas agendadas para a nova pintura (ou mesmo se ela acontecerá). Um recapeamento na Av. Torres de Oliveira, ao lado da USP, por exemplo, foi realizado há 10 dias e permanece sem nova pintura.”
“O dinheiro público empregado para um serviço de tapa-buraco – em uma via que aparentemente não possui demanda de recapeamento e com uma ciclofaixa em bom estado, segundo ciclistas que a utilizam diariamente – parece ter revelado uma nebulosa tentativa da administração municipal em remover uma parte da malha cicloviária da região, sem diálogo com os setores da sociedade diretamente envolvidos no seu uso e atropelando trâmites legais da administração pública”, conclui o texto, que é finalizado com um convite ao prefeito João Dória e ao secretário de transportes Sergio Avelleda para conversarem “de verdade”. “Chega de falsos diálogos e etéreas promessas”, alerta o comunicado.
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