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Marcelo Augusto Xavier da Silva disse também que a Funai faz "mal" para o índio e que os servidores têm "comprometimento ideológico".
Da Redação*
Marcelo Augusto Xavier da Silva, delegado da Polícia Federal e ouvidor da Funai (Fundação Nacional do Índio), em uma reunião gravada entre diretores e servidores do órgão, afirmou que ONGs são "canalhas", que a Funai faz "mal" para o índio e que os servidores têm "comprometimento ideológico". Silva também sugeriu "expropriar" bens de servidores e de ONGs.
No cargo desde agosto, o ouvidor foi assessor da bancada ruralista na CPI da Funai e do Incra e 0solicitou, em ofício à PF, "providências persecutórias" contra índios e ONGs de Mato Grosso do Sul. A gravação de quase uma hora foi entregue à PGR (Procuradoria-Geral da República) junto com uma queixa assinada por servidores da Funai. O assunto está sob análise na 6ª Câmara da PGR.
A reunião ocorreu em 11 de setembro na sede do órgão, em Brasília. Um grupo de 14 servidores pediu explicações sobre mudanças na Diretoria de Proteção Territorial. No encontro, Silva disse que servidores do órgão deveriam ser investigados por conexão com ONGs. "Quebra o sigilo fiscal e bancário e fiscal de uma ONG... Eu tenho os laudos, ver o que esses canalhas, canalhas, movimentam, dá mais que o orçamento da Funai. E os índios estão morrendo. Isso é defesa do índio?", disse o delegado da PF.
O ouvidor disse enxergar "comprometimento ideológico" dos servidores. "Quem paga na ponta todo o mal que está sendo feito aqui dentro são os indígenas. Continuam sendo manipulados, continuam sendo utilizados como massa de manobra."
Silva disse que, se os índios fossem indagados nas aldeias, diriam que não recebem "nada" de ONGs que movimentam "quase o recurso anual da Funai".
"Tem que pegar esse cara dessa ONG e expropriar todos os bens dele, quebrar o sigilo dele, ver quem são os servidores que têm contato aqui dentro [com a ONG] e expropriar tudo para indenizar esses índios, que são uns coitados que estão lá, morrendo."
"E essa política indigenista faz mais de dez anos que é assim. Não se avançou em nada. Mas meu Deus, se aumentou a mortalidade de índios. Nós vamos para onde? Então a política é para matar?"
A fala gerou reação dos servidores. Um deles, com mais de 30 anos de casa, disse ao delegado que ele não deveria generalizar. "O senhor pode saber de polícia, mas de Funai o senhor não entende absolutamente nada. Muito grosseira a sua fala".
Outra servidora indagou como o ouvidor poderia dizer que o órgão estava "fazendo mal" aos índios. "Acho que isso é ofensivo, o senhor está há 30 dias aqui dentro, tem que achar uma forma mais adequada de comunicação".
O ouvidor então recuou, dizendo. "Se a senhora achou que foi ofensivo, me desculpe, falei em questões genéricas por ter visto e conhecido o que se passa por trás dessas ONGs. Eu tenho os laudos de quebra de sigilo bancário e fiscal", disse o delegado.
Na mesma reunião, o diretor da Diretoria de Administração e Gestão, Francisco José Nunes Ferreira, afirmou que a Funai deveria fazer um bom trabalho para que o governo diga "puxa, a Funai está me ajudando, não tenho mais aquele bando de índios aqui me agredindo na porta do Palácio [do Planalto]".
*Com informações da Folha de S.Paulo
Foto: Divulgação