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Everton Vieira foi o mediador do debate “Desafios de uma educação libertadora”, que foi invadido por um grupo de extrema direita, com discurso agressivo e ameaças, tentando cancelar o evento: “Precisamos combater o discurso deles”
Por Lucas Vasques
Para o presidente do PSOL de Guarujá, Everton Vieira, ação do grupo fascista que provocou enorme tumulto durante o evento Desafios de uma educação libertadora, organizado pelo partido, sábado (28), na Câmara Municipal, tem um significado emblemático. “Após o golpe que a gente sofreu, contra a classe trabalhadora, que vem retirar direitos e que tem como base de sustentação a bancada fundamentalista, esse grupo precisa ir para outras pautas, criar uma cortina de fumaça, outras narrativas para disfarçar questões que realmente importam. Quando eles falam em ideologia de gênero, as pessoas não sabem muito bem o que elas estão falando. O que nós da esquerda chamamos de ideologia de gênero, se é que dá para usar esse termo, é o patriarcado, o binário de gêneros, a misoginia. Esses são os conceitos da ideologia de uma classe dominante para oprimir as mulheres. O que a gente quer é justamente combater isso, combater essas estruturas que oprimem as mulheres com questões de gênero, de raça, de classe. O que eu percebo sobre esse levante fascista, essa onda conservadora é que, após o golpe, muitos saíram do armário do fascismo”, avalia.
Everton conta em detalhes o que ocorreu: “Nós, do PSOL, realizamos o evento devido ao que que aconteceu recentemente na cidade. Uma escola particular promoveu um debate sobre diversidade. Um pai, incomodado com a iniciativa, gravou um vídeo onde atacou a escola, os funcionários, diretores e também o PSOL, que não tinha nada a ver com isso. Como é de costume nesses conservadores, quando há um debate progressista, eles atacam o campo da esquerda. Diante desse cenário, de um ataque ao PSOL, sobre uma coisa que nós não fazíamos parte, entendemos que seria importante para a cidade que promovêssemos um debate com a nossa visão progressista sobre educação”.
Os problemas começaram logo que o debate foi confirmado. “Depois que a gente marcou essa atividade, um grupo conservador começou, como de costume, a espalhar, dentro das igrejas, uma notícia falsa. Para ter a capacidade de mobilizar, eles tiveram que inventar a seguinte história: o evento seria uma audiência pública e não uma atividade do PSOL. Então, eles usaram da ignorância e da falta e conhecimento das pessoas para dizer que a audiência pública seria para fazer um projeto de lei para implantar ideologia de gênero nas escolas e para fazer as crianças virarem gays. Esse era o discurso que eles usaram dentro da igreja para poder mobilizar”, explica Everton;
Então, segundo o presidente do PSOL guarujaense, as pessoas chegaram lá com muita raiva. “Fizeram um ato na frente da Câmara, uma manifestação antes, o que já foi bastante violento para os convidados, para os militantes e simpatizantes. Depois dessa manifestação, na qual fomos ofendidos, chamaram a gente de pervertidos e com discursos do tipo “Deixem nossas crianças em paz”, eles subiram e tentaram de todo jeito tumultuar a atividade e impedir que ela acontecesse. Apesar das tentativas, a gente tinha bastante gente nossa, os companheiros da Pastoral da Juventude, que estavam apoiando nossa atividade, alguns outros camaradas evangélicos, que apoiavam a militância do PSOL, boa parte da militância de esquerda da Baixada e conseguimos ter uma correlação de forças para segurar a barra e deu para fazer nossa atividade até o final, apesar das provocações”, conta.
Os ânimos se exaltaram em vários momentos. “A lição que a gente tira disso é que precisamos combater o discurso deles, de forma mais sistemática, porque aquelas pessoas que estavam ali não são os formuladores desse discurso. Não estou tentando tirar a responsabilidade deles, mas eles não são os formuladores. Alguém formulou aquela narrativa. Alguém os manipulou para estarem ali. Chegou a ter momentos de muita agressividade, com pessoas indo para cima dos palestrantes, principalmente a Luiza (Coppieters, professora de filosofia) e a Marcela (Moreira, cientista social), que são mulheres e foram expostas a muitas falas de violência simbólica, mas o nosso balanço é que foi positivo”.
Foto: Divulgação: PSOL/Guarujá