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A professora, historiadora e ativista do movimento negro, Luana Tolentino, postou em seu Facebook um texto em que explica os motivos pelos quais não aceitou o convite do programa "Caldeirão do Huck" para participar de um especial sobre o Dia da Mulher. "Não me agrada a espetacularização que é feita com a vida das pessoas que tem uma 'história de superação'". Confira
Por Redação
A ativista do movimento negro, historiadora e professora Luana Tolentino, conhecida nas redes sociais pelos seus textos sobre direitos das mulheres e racismo, recusou uma entrevista no programa "Caldeirão do Huck", da TV Globo. Em sua página do Facebook, Luana publicou um texto em que explica os motivos pelos quais recusou o convite: espetacularização "das pessoas que têm histórias de superação" e objetificação do corpo da mulher negra - artifícios que julga serem recorrentes no programa global.
"Para chegar até aqui tive que romper barreiras visíveis e invisíveis. Nesse percurso fui me arrebentando de tal maneira que às vezes tenho a sensação de que sou toda quebrada por dentro. São questões que precisam ser ditas, mas a produção e o Luciano Huck não tem o menor interesse em debatê-las ou enxergá-las", escreveu, reforçando ainda que tem como obrigação manter um compromisso com seus princípios e com aquilo que escreve.
"Não vejo o menor sentido em ser homenageada no dia 8 de Março pelo Luciano Huck, que durante a Copa usou o programa para oferecer brasileiras aos gringos, como se fôssemos mercadoria", completou.
Confira a íntegra do texto:
Hoje à tarde fui surpreendida com um telefonema da produção do Caldeirão do Huck. Em março o programa fará uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Segundo a produtora do programa "sou uma mulher inspiradora". Por isso eles acharam que o Luciano Huck deveria me entrevistar.
Não aceitei. Minha decisão não se deu pelo fato do Caldeirão do Huck fazer parte da programação da Rede Globo, emissora pela qual tenho uma infinidade de críticas e há muito tempo não assisto. Longe disso. Não aceitei porque não me agrada a espetacularização que é feita com a vida das pessoas que tem uma "história de superação".
Não aceitei porque não vou me prestar ao papel de reforçar o discurso da meritocracia, que discordo e combato com veemência.
- Luana, você é a prova de que quando as pessoas realmente querem, elas conseguem! - Foi o que a produtora me disse.
Mas não é bem assim. De fato, desejei estudar, desejei escrever, desejei ser professora. Me sinto grata, rica, realizada em poder fazer tudo o que eu sempre quis. Porém, provavelmente tudo teria sido muito diferente, não fosse a estrutura desigual, racista e machista do nosso país.
Para chegar até aqui tive que romper barreiras visíveis e invisíveis. Nesse percurso fui me arrebentando de tal maneira que às vezes tenho a sensação de que sou toda quebrada por dentro. São questões que precisam ser ditas, mas a produção e o Luciano Huck não tem o menor interesse em debatê-las ou enxergá-las.
Concordo que nós negras e negros devemos ocupar espaços, que as nossas vozes devem ir para além da internet, da Academia, e no meu caso, da sala de aula, mas não acho que seja necessário perder de vista os compromissos assumidos: comigo mesma e com aqueles que represento através da minha fala e da minha escrita.
Respeito o trabalho da profissional que entrou em contato comigo. Por isso agradeci imensamente o convite. Por outro lado, não vejo o menor sentido em ser homenageada no dia 8 de Março pelo Luciano Huck, que durante a Copa usou o programa para oferecer brasileiras aos gringos, como se fôssemos mercadoria.