Christian Dunker: Ministro não é síndico e ministério não é condomínio

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O psicanalista, professor da USP e colaborador da Fórum Semanal critica a possibilidade cada vez mais concreta da saída de Arthur Chioro do ministério da Saúde. "Quando deixamos que um ministro, cuja prática vem do SUS e que age para o SUS, seja substituído, apenas como meio para sustentação política, é a finalidade da política que se perdeu" Por Redação É dada como certa a substituição do atual ministro da Saúde, Arthur Chioro, por um nome indicado pelo PMDB na reforma ministerial arquitetada pela presidenta Dilma Rousseff. Um dos nomes mais cotados para assumir a pasta é o do deputado federal Manoel Junior (PMDB-PB). Para a jornalista especializada em Saúde Conceição Lemes, a nomeação pode ser a "pá de cal" no Sistema Único de Saúde (SUS), já prejudicado com os cortes previstos no orçamento. "Será como colocar a raposa para tomar conta das uvas, havendo o risco de tornar o Ministério da Saúde em um balcão de negócios. Por uma simples razão: a especialidade do parlamentar é defender o interesse privado em detrimento da saúde pública", afirma neste post. O psicanalista, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e colunista da revista Fórum Semanal, Christian Dunker, também contestou a possível troca. "A saúde é um processo que envolve continuidade de propósitos e genuína atenção sobre cada um de seus meios. Quando deixamos que um ministro, cuja prática vem do SUS e que age para o SUS, seja substituído, apenas como meio para sustentação política, é a finalidade da política que se perdeu", disse, em carta aberta à Presidência da República. "Não é o que a saúde precisa, não é o que o Brasil precisa. Sobretudo neste momento, não tornemos esta pequena urgência local, e a miséria de suas circunstâncias, um motivo para suspender benefícios e sucessos laboriosamente compostos", completa Dunker. Confira abaixo a íntegra da carta do professor da USP. Carta aberta à Presidência da República A saúde é um processo que envolve continuidade de propósitos e genuína atenção sobre cada um de seus meios. Quando deixamos que um ministro, cuja prática vem do SUS e que age para o SUS, seja substituído, apenas como meio para sustentação política, é a finalidade da política que se perdeu. Finalidade que é distribuir este bem simbólico, a saúde, para todos. Ministro não é síndico e ministério não é condomínio. As coisas públicas não são bens que se trocam, elas são meios comuns para fins comuns. A fonte e origem de toda corrupção é a inversão entre meios e fins. As piores experiências e as práticas menos producentes nesta área são verificadas quando substituímos agentes interessados em saúde por gestores e políticos de ocasião. Não é o que a saúde precisa, não é o que o Brasil precisa. Sobretudo neste momento, não tornemos esta pequena urgência local, e a miséria de suas circunstâncias, um motivo para suspender benefícios e sucessos laboriosamente compostos. Não deixemos que, mais uma vez, nosso presente precário destitua nosso futuro possível, pago com grande custo no passado.