Para a psicóloga Aline Couto, a estampa é inadequada e reforça a sexualização precoce de crianças. "Se fosse uma estampa de uma camiseta para uma adulta [modelo também vendido pela loja online] já seria preocupante, pois objetifica com o puro e simples objetivo de vender. Pior ainda sendo pra uma criança. Já somos suficientemente julgadas pelo que vestimos enquanto adultas e dói ver uma marca fazendo dinheiro em cima dessa objetificação para uma criança".
Couto chama atenção para o risco de encararmos mensagens como essa de forma puramente humorística. "É certo que mais dia ou menos dia uma menina que veste isso porque os pais acham 'engraçado', 'espirituoso', vai aprender, e não de um jeito engraçado, que usam nossas roupas para justificar abusos. Começar com isso na infância é cruel. Tem muita gente discutindo os impactos da sexualização precoce na infância, mas coisas como essa camiseta aí passam por 'brincadeirinha'", argumenta.
Outra estampa que levantou questionamentos exibe as palavras "Salvem as baleias, eu salvo as sereias", o que pode insinuar uma mensagem gordofóbica de deboche contra mulheres gordas. Para Polly Barbi, editora do portal Lugar de Mulher, a intenção é facilmente identificável. "Muita gente pode vir com aquele papo de 'que isso, imagina, estavam só falando das sereias'. Mas quem é gorda sabe muito bem do que se trata", considera.
[caption id="attachment_59959" align="aligncenter" width="295"] (Divulgação)[/caption]Em outro modelo, há a frase "Quando um não quer, o outro insiste". Ativistas feministas advertem que isso pode reforçar a cultura do estupro, por reproduzir a ideia de que a negação não é suficiente para interromper uma investida sexual. Situação parecida ocorreu com propaganda veiculada pela Skol na véspera do Carnaval, quando a cervejaria espalhou cartazes com os dizeres “Esqueci o ‘não’ em casa”. A peça, de tão criticada, foi retirada de circulação e trocada por outra.
[caption id="attachment_59960" align="aligncenter" width="197"] (Divulgação)[/caption] A reportagem da Fórum tentou contato telefônico com a Use Huck, mas até o fechamento desta nota não foi atendida.