Repórter infiltrado mostra como empresa contratada pelo plano de contingência empregou de forma ilegal centenas de trabalhadores para realizar a limpeza das ruas do Rio de Janeiro durante a greve dos garis
Da Mídia NinjaDurante os oito dias de paralisação de seus funcionários, a Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro), presidida por Vinícius Roriz, colocou em ação um plano de contingência para contratar de forma irregular centenas de trabalhadores diariamente.
Esses funcionários improvisados fizeram, ao longo dos dias de greve dos garis, o trabalho de limpeza das ruas do Rio de Janeiro. A Mídia Ninja recebeu diversas denúncias das péssimas condições de trabalho envolvidas processo, e se infiltrou no esquema de contratação para documentar a realidade daqueles que se arriscaram dia e noite na coleta irregular do lixo na cidade.
A Comlurb chegou a investir cerca de R$ 3 milhões, num primeiro momento, para contratar uma empresa terceirizada, a DSRH, do grupo T&F, que por sua vez contratou uma outra empresa, chamada Masan, (quarteirizando o serviço) para que prestasse serviços de administração dos trabalhadores temporários. Ao mesmo tempo, foram contratadas empresas de segurança para escoltar, com uso de armas, a coleta de lixo feita durante a noite.
Cada "gari temporário" ganhou em média 100 reais por dia para trabalhar 8 horas oficialmente. No entanto, o processo de contratação, levando em conta o tempo de espera em filas, chegava a levar mais de 12 horas. Divididos em dois turnos, os trabalhadores poderiam fazer a jornada das 7h da manhã às 15h ou das 19h às 3h do outro dia.
Porém, diante da alta procura, as filas na base da Guarda Municipal, em São Cristóvão, eram enormes. Aquele que queria trabalhar tinha que chegar cedo. Como acompanhou em campo um repórter da Mídia Ninja, para entrar no turno da noite, muitos ali chegavam entre 11h e 12h, sendo que o pagamento era feito somente às 4h ou 5h do dia seguinte, contabilizando um total de 18 horas. Alguns destes, inclusive, ao retornar para a base depois da jornada de trabalho, já ingressavam na fila novamente, sem dormir, para pegar o próximo turno.
Luvas e botas. Antes de subir no caminhão, cinco minutinhos de orientação. Pronto, está feito o processo de formação dos novos profissionais. Afinal, de acordo com um gerente comissionado da Conmlurb, “trabalho de Gari qualquer um faz”. "É tipo freelance – é igual trabalhar em buffer, tu chega lá e aí a noitada é isso, a diária é isso, e acabou”, comenta o encarregado da Masan, empresa que operou todo o esquema de contratação ilegal dentro do prédio do BG da Guarda Municipal, em São Cristóvão, no centro da capital carioca.
Os R$100,00, valor pago pela noite de trabalho, é mais que o dobro do que ganham os garis registrados ou concursados. "Trabalhador temporário precisa de assinatura na Carteira de Trabalho, exatamente como um trabalhador celetista, por prazo indeterminado", diz Maria Goretti Nagime, advogada trabalhista do Coletivo de Advogados/RJ. Durante todo o tempo de trabalho, o caminhão de lixo em que estava o repórter NINJA foi acompanhado por uma viatura da MACOR, empresa de segurança privada e escolta armada.
Nas 16h que passou com os contratados, o repórter evidenciou as condições de trabalho e o esquema que envolve a limpeza urbana no Rio de Janeiro. Confia no vídeo: