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Fórum conversou com o autor da faixa “Basta de Paulo Freire”, que causou alvoroço em meio às manifestações pró-impeachment no último domingo em Brasília. Eduardo é professor e rejeita o legado do educador pernambucano, a quem se refere como “doutrinador marxista”
Por Maíra Streit, de Brasília
Os protestos do dia 15 de março contra o governo de Dilma Rousseff ainda estão dando o que falar. Entre pedidos de impeachment, intervenção militar, xingamentos e outras formas questionáveis de manifestação, uma faixa em especial chamou a atenção. “Chega de doutrinação marxista. Basta de Paulo Freire” foi a mensagem levada às ruas de Brasília pelo professor de história Eduardo Sallenave, de 27 anos.
Para ele, a admiração de muitos brasileiros diante do mais famoso pedagogo do país não faz o menor sentido. “É um rostinho simpático para um projeto cruel e desumano. Um teórico totalmente alinhado ao marxismo e regimes tirânicos, como o de Fidel Castro. As pessoas pedem mais educação, mas o MEC segue a ideologia do PT”, afirmou.
Ao comentar, em sua página no Facebook, a respeito da repercussão do caso, Sallenave foi ainda mais longe. “Criticar o Paulinho? Ah, isso não! Paulo Freire é uma figura sacrossanta! Haja saco... Pedagogia do Oprimido = coitadismo e doutrinação marxista fulera (sic); não recomendo nem para o meu cachorro”.
A foto do protesto de Sallenave rodou os quatro cantos do Brasil e fez com que muita gente condenasse a atitude. No mesmo dia, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) divulgou nas redes sociais uma frase de Freire e a ação foi repetida por vários internautas, que lembraram outros pensamentos bastante conhecidos do autor, em uma espécie de homenagem.
A professora Maria Stela Graciani, doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), afirma que a crítica ao trabalho de Freire é um entre tantos outros momentos reprováveis dos protestos do dia 15.
Nesse caso específico, ela se disse perplexa e atribuiu os insultos à “ignorância” em relação às contribuições do educador. “O professor Paulo Freire é um arauto da cidadania, dos direitos humanos e do resgate da identidade, no projeto ético-pedagógico que ele deixa para a história. É uma obra libertária, democrática, que prioriza o diálogo, inclusive aceitando as contradições”, explicou.
[caption id="attachment_61393" align="alignleft" width="300"] Paulo Freire foi uma das figuras atacadas nos protestos do dia 15 (Foto: Reprodução)[/caption]
Para ela, esse tipo de manifestação é resultado de um pensamento que não aceita opiniões divergentes, algo que a própria obra de Freire defendia. “Ele acreditava no contraditório, na contra-opinião, na troca de experiências, com as ideias e os ideais de cada um. Uma faixa como essa é, no mínimo, ignorância”, apontou.
Quem foi Paulo Freire?
Nascido em 1922 na cidade de Recife (PE), ele se tornou o mais célebre educador brasileiro, tendo sido nomeado Doutor Honoris Causa de 28 universidades pelo mundo, como Harvard, Cambridge e Oxford, com obras traduzidas em mais de 20 idiomas. Entre as principais obras publicadas estão “Conscientização e alfabetização: uma nova visão do processo”, “Educação como prática da liberdade”, “Pedagogia do Oprimido” e “Pedagogia da Esperança”.
Conhecido pelo método de alfabetização de adultos que leva o seu nome, Freire criticava os meios de ensino oferecidos pela maioria das escolas (chamados de “educação bancária”), em que a educação é vista como algo alienante, que não busca desenvolver o espírito crítico dos alunos. Assim, passou a defender a necessidade de empoderamento dessas pessoas, por acreditar no conhecimento como forma de libertação das opressões sociais.
Segundo ele, o ensino deveria habilitar o estudante a “ler o mundo”, na famosa expressão do educador, para que possa transformar a realidade em que vive e lutar contra as injustiças a que muitos são submetidos. Desde 2012, Freire é considerado o Patrono da Educação Brasileira.
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A lógica do encantamento - os ensinamentos de Paulo Freire, de que a educação é instrumento de conscientização e libertação, continuam influenciando pessoas em todo o mundo.
O pensador do século XXI - A teoria de conhecimento desenvolvida por Paulo Freire continua sendo referência nos mais diversos países e influencia quase todas as ciências humanas.
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Foto de capa: Maíra Streit
O pensador do século XXI