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Partida entre Palmeiras e XV de Piracicaba no próximo domingo (15), em São Paulo, acontecerá na parte da manhã para não coincidir com a manifestação anti-Dilma, que acontece à tarde. Determinação partiu da secretaria de Segurança Pública, que alega precisar do contingente policial para o ato. Será que segurança é a única motivação da mudança?
Por Ivan Longo
Domingo (15) tem futebol pela manhã em São Paulo. E não é o futebol com os amigos e nem uma partida de futsal pela televisão, mas um jogo oficial válido pela 10ª rodada do campeonato paulista, entre Palmeiras e XV de Piracicaba. Inicialmente marcada para 16h – como acontece com boa parte dos demais jogos oficiais do estado aos domingos – a partida foi antecipada para às 11h da manhã, por uma determinação da secretaria de Segurança Pública.
O motivo? A manifestação contra a presidenta Dilma Rousseff, marcada para a parte da tarde do mesmo dia no vão livre do Masp, quase 8 quilômetros distante do local onde será realizado o jogo – no estádio do Palmeiras, o Allianz Parque.
A justificativa? “Segurança”. De acordo com o secretário de Segurança Pública, Alexandre Moraes, o evento esportivo não poderia acontecer na parte da tarde, período em que estão “previstas manifestações na capital paulista”. “Haverá manifestação popular, por isso a Polícia Militar terá de concentrar todo o contingente policial para trabalhar em cima da manifestação, e não do jogo”, explicou o coronel Marcos Marinho, Diretor de Segurança da Federação Paulista de Futebol (FPF).
O caso, no entanto, soa no mínimo estranho quando analisado com cautela. A justificativa da segurança até parece plausível em um primeiro momento, mas, dado o cenário que está se desenhando em cima dessa manifestação somado a alguns fatos que giram em torno dessa justificativa, não fica difícil entender que a segurança não é a única razão da alteração.
De acordo com o coronel Marinho, da FPF, no último jogo do Palmeiras (Palmeiras X Brangantino), no sábado (7), foi mobilizado um contingente com cerca de 115 policiais. Como a partida deste domingo não é nenhum clássico, o contingente de PMs deve ser parecido. A torcida será composta, praticamente, apenas por palmeirenses. Isto é, as chances de um conflito e, consequentemente, da necessidade de uma mobilização maior de policiais, será praticamente nula.
PM no estádio X PM na manifestação: medida desnecessária
A Polícia Militar no estado de São Paulo conta com um contingente total de mais de 90 mil homens. Nas últimas manifestações populares que aconteceram na cidade, foram mobilizados cerca de mil PMs em cada. Nas partidas de futebol que não são clássicos, como já dito, a média é de 115 policiais.
Somente esses dados já dão uma dimensão de que o número de policiais necessários para o evento esportivo é irrisório perto da quantidade de homens que a polícia tem à disposição e daqueles que são, efetivamente, mobilizados para manifestações.
Guaracy Mingardi, ex-secretário de Segurança Pública de Guarulhos, cientista político e especialista no assunto, vai além. Ele lembra que a PM já tem tropas especiais para cada situação.
“Não há nenhuma necessidade [de fazer a alteração do horário do jogo]. Primeiramente por que, a princípio, espera-se que o protesto seja pacífico. Segundo que a Polícia Militar já é organizada para atender diferentes demandas ao mesmo tempo. Tem a Tropa de Choque, tem a Rota, que certamente não vai ser usada em protesto, tem a cavalaria, tem um batalhão específico pra manifestações e tem um específico para eventos esportivos”, explicou.
Nesse sentido, é inevitável que as motivações apresentadas pela secretaria do governo de Geraldo Alckmin (PSDB) sejam colocadas em dúvida. “Deve ter alguma coisa política envolvida... Eles podem querer que a atenção não seja dividida com o protesto, querer que mais gente vá a manifestação, tirando gente do jogo de futebol. É estranho, mas aí não posso ser preciso”, comentou Mingardi.
O Diretório Municipal do PT recebeu com estranheza a notícia da mudança de horário do jogo por conta do protesto. “Muito estranha a decisão da mudança, porque não é comum que os jogos tenham seu horário alterado em razão de eventos na cidade, e muito menos de uma manifestação. Esperamos que não haja nessa decisão da Secretaria de Segurança Pública nenhuma outra questão senão uma preocupação técnica e baseada em critérios objetivos”, afirmou o vereador Paulo Fiorilo, presidente do diretório.
Preocupação com o transporte público: antes não tinha, agora tem
A secretaria de Segurança Pública informou ainda que, além da questão da segurança, a mudança de horário do jogo se faz necessária pois os o término dos dois eventos poderia coincidir, o que poderia “acarretar sobrecarga no transporte público, dificultando a vida da cidade”.
Essa preocupação com a locomoção das pessoas em dia de manifestação também é pouco usual. Ao longo desse e de outros anos, em diversas ocasiões, a Polícia Militar fechou estações de Metrô em pleno funcionamento para impedir o trânsito de manifestantes. Em alguns atos, inclusive, a PM chegou a invadir estações e disparar bombas de gás e balas de borracha contra manifestantes e usuários.
Aparentemente há um tratamento bem diferente do governo estadual com a manifestação de domingo em relação a outras manifestações que vinham ocorrendo até então na capital.
É tudo pela “segurança”.
Foto: Reprodução/Facebook