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No período mais duro da repressão política, ditadura decidiu comemorar o sesquicentenário da independência
Por Redação
No dia 21 de abril de 1972, chegou de Portugal ao Brasil o corpo de Dom Pedro I para uma festa inventada pelo regime militar, na época regida pelo general Emílio Garrastazu Médici, em comemoração aos 150 anos de independência. A ideia era que o corpo do imperador viajasse pelo país até chegar a São Paulo e ser reenterrado na semana de 7 de setembro. A festa foi batizada com o difícil nome de “Sesquicentenário”.
O Brasil na época vivia o seu grande momento, vivendo o seu “Milagre Econômico” e realizando grandes obras como a hidrelétrica de Itaipu, a rodovia Transamazônica, a ponte Rio-Niterói e o primeiro metrô de São Paulo.
No entanto, enquanto o Brasil tricampeão da Copa do Mundo assistia com euforia às festividades por onde quer que o corpo de D. Pedro passasse no país, com paradas militares – como a procissão de 18 mil soldados na Avenida Paulista -, no interior das delegacias e presídios, promovia-se a tortura e o assassinato com o aval do Estado. Eram os famosos “porões da ditadura”.
O regime da Médici – que veio na esteira do AI-5 e do fraco estado de saúde do então presidente Costa e Silva – ficou conhecido como um dos anos mais duros da ditadura com o auge da ação dos instrumentos de repressão, tortura, pessoas desaparecidas e censura aos meios de comunicação.
Para ilustrar a contradição dessa época - com a festa para o corpo do imperador e o desaparecimento dos que lutavam contra o regime militar – a Última Instância realizou uma reportagem visual, que pode ser vista abaixo.
Quase que exatamente 18 anos depois da grande festa do Sesquicentenário, no dia 4 de setembro de 1990, abriu-se na vala de Perus, localizada no cemitério Dom Bosco, 1.049 ossadas. Nesse bairro distante da zona norte da cidade de São Paulo, que os militares encontraram o local ideal para esconder presos políticos mortos.
O cemitério foi construído pela prefeitura, em 1971 – um ano antes da peregrinação póstuma de D. Pedro pelo Brasil – na gestão de Paulo Maluf e, no início, recebia cadáveres de pessoas não identificadas, indigentes, mas logo passou a receber também os cadáveres das vítimas da repressão política. Hoje, após 23 anos da descoberta, a maior parte das ossadas continua não identificada.