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Segundo ministro, as manifestações marcadas para a Copa do Mundo são saudáveis à democracia. “Se tem uma coisa que nunca assustou esse governo é mobilização”
Por Anna Beatriz Anjos
[caption id="attachment_47009" align="alignleft" width="300"] Cerca de 300 mulheres protestaram em frente ao escritório de apoio da Embrapa. Simbolicamente, elas inauguraram a Embrapa Agroecologia (Foto: Anna Beatriz Anjos)[/caption]
O ministro da Secretaria-Geral da República, Gilberto Carvalho, afirmou que os atos previstos para a Copa do Mundo não assustam o governo. “Nossa preocupação é que ocorra tudo dentro da normalidade democrática, em que cada um pode falar o que quiser, onde quiser, mas respeitando o direito do outro e evitando a violência”, declarou, nesta segunda-feira (19), em entrevista coletiva durante o encerramento do III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), em Juazeiro, na Bahia.
Segundo Carvalho, seria uma incoerência o governo se colocar de forma contrária aos protestos. “Tudo que nós fizemos na nossa geração foi exatamente para isso, ter uma sociedade mais mobilizada. Seria muito contraditório a gente reclamar agora”, disse.
Além das manifestações, o ministro falou sobre a reforma agrária, uma das maiores reivindicações dos agricultores e movimentos sociais que estiveram reunidos durante o ENA. Ele admitiu que a gestão de Dilma Rousseff não progrediu significativamente nessa questão. “A reforma agrária ainda segue sendo o maior polo de tensão na nossa relação com o movimento rural”, reconheceu.
Para Carvalho, os dois fatores que mais dificultaram o avanço na redistribuição das terras foram o encarecimento dos lotes e, sobretudo, o aparelhamento do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) que teria ocorrido no passado. "Não posso falar isso jogando a culpa no passado porque estamos governando há 12 anos, mas acho que um dos nossos problemas foi não ter feito uma qualificação melhor do Incra pra fazer acontecer as coisas na ponta”, analisou.
O ministro indicou que, para “compensar o menor progresso” na reforma agrária, o governo investiu na qualificação dos assentamentos já existentes. “Nos demos conta de que muitos assentamentos que nós ou outros governos tinham feito estavam se tornando exemplo de antirreforma agrária, na medida em que não permitiam a sobrevivência do agricultor”, explicou.
Quanto à pauta específica da agroecologia, cerne do evento, Carvalho destacou a abrangência e importância do tema. “Esse encontro, de alguma forma, prefigura o modelo de sociedade que nós sonhamos, porque vocês não falam só do cultivo da terra, vocês falam da relação com a natureza, com o alimento, com a saúde, com as pessoas – a mulher, a criança, o outro”, pontuou, ao participar do seminário final, pouco antes da fala aos jornalistas.
Ele ressaltou, entretanto, que o modelo de política pública discutido e proposto durante o ENA só poderá ser colocado em prática caso o país passe por uma reforma política. “É claro que o governo pode fazer mais, que há uma série de medidas que podem ser tomadas agora. Mas não se enganem: enquanto houver bancada no congresso de interesse dos grandes latifundiários, dos grandes industriais, frente a uma bancada de trabalhadores tão resumida como temos, não conseguiremos avançar como precisamos.”
“Agroecologia é vida, agronegócio é morte”
Pela manhã, antes do seminário final, ocorreram três atos simultâneos organizadas pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), que promove o ENA.
Em um deles, cerca de 300 mulheres camponesas, quilombolas, ribeirinhas, indígenas e quebradeiras de coco protestaram em frente ao escritório de apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na cidade de Petrolina, em Pernambuco. A reivindicação era por mais pesquisas em agroecologia.
Simbolicamente, elas inauguraram a Embrapa Agroecologia e leram uma carta aberta endereçada a Maurício Antônio Lopes, presidente da entidade. Pedro Gama, chefe-geral do Centro de Pesquisa Agropecuária do Semiárido, acompanhou as atividades e ficou encarregado de encaminhar o documento.
Também em Petrolina, outro protesto reuniu aproximadamente 100 participantes do encontro em frente à unidade de pesquisa da indústria transnacional Monsanto. No local, são feitos experimentos com milho e sorgo transgênicos. Foram colocadas diversas cruzes na entrada do prédio simbolizando as mortes provocadas pelos transgênicos e agrotóxicos utilizados pela companhia.
[caption id="attachment_47005" align="aligncenter" width="407"] Participantes do III ENA protestando em frente à unidade de testes da transnacional Monsanto (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)[/caption]
A terceira manifestação, que aconteceu no Mercado do Produtor, em Juazeiro, contou com 50 pessoas e denunciou a criação de um mosquito Aedes Aegypti (transmissor da dengue) geneticamente modificado, que está sendo testado no município com o pretexto de combater a doença. Panfletos informativos foram distribuídos para a população e um balão com o símbolo dos transgênicos e a figura do inseto foi colocado sobre um carro de som, que circulou pelo local.
No fim da manhã, os manifestantes se encontraram na ponte Presidente Dutra, que liga Petrolina e Juazeiro. A via ficou fechada em ambos os sentidos por cerca de 30 minutos. O ato foi pacífico e assistido pela Polícia Rodoviária Federal. Aos gritos de “agroecologia é vida, agronegócio é morte”, e empunhando bandeiras, cartazes e faixas, os agricultores e agricultoras retornaram, por volta das 11h, à Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), onde o evento se encerrou horas depois.
[caption id="attachment_47006" align="aligncenter" width="407"] No final da manhã, os manifestantes que participaram dos outros três protestos se encontraram na ponte Presidente Dutra, que liga Petrolina à Juazeiro (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)[/caption]
Foto de capa: Valter Campanato/Agência Brasil