Escrito en
BRASIL
el
Breves reflexões sobre o que temos pela frente, num cenário em que as velhas esperanças declinam – e as novas ainda não ocuparam seu lugar
Por Gustavo Gindre*, no Outras Palavras
1) Entendo o caldo de cultura no qual surgiram os Black Bloc. O ocaso do PT como opção transformadora foi entendido pela sociedade como o ocaso da “última esperança”. Agora, todos seriam iguais. E igualmente safados!
[caption id="attachment_41941" align="alignright" width="300"] (Pablo Picasso, Banderillas)[/caption]
2) Some-se a essa questão conjuntural um processo global de falência das formas tradicionais de representação, inclusive dos movimentos sociais.
3) Diante desse cenário de desesperança, é até previsível que surgisse uma forma de manifestação que flerta com o anarquismo, mas também com o niilismo, sem ser exatamente nenhum dos dois.
4) Isso significa que não concordo com tentativas de demonizar os black bloc. Acho que é preciso entender que eles são um sintoma, uma febre, mostrando que o organismo está profundamente doente.
5) Por outro lado, não concordo com certas tentativas de projetar nos black bloc as esperanças perdidas com a crise do proletariado como sujeito ontologicamente revolucionário. Tem muita gente com um crachá nas mãos, torcendo para encontrar esse sujeito revolucionário do século XXI. E aí acabam projetando suas esperanças.
6) Também não acho correto comparar os black bloc com a miríade de novas formas de organização coletiva e produção simbólica que estão sendo gestadas nas favelas e nas periferias como resposta a essa crise de representatividade. Os black blocs não podem ser comparados a nenhuma alternativa pela mais simples razão de que eles não pretendem ser alternativa a nada.
7) Quem participou das manifestações de junho/julho percebeu que, por detrás do rótulo de black bloc, havia uma enorme diversidade: militantes anarquistas, integrantes de torcidas de futebol, o lumpesinato urbano, etc, etc. Tudo junto e misturado.
——-Dito isso, sobre esse fato recente, da agressão ao jornalista, penso que:
1) Jornalistas são agredidos e mortos o tempo todo. Pesquisa da Abraji revela que, na maioria dos casos, os agressores são policiais. Mas, ninguém comenta quase nada a respeito.
2) Por outro lado, isso não invalida a agressão ao jornalista. Seu agressor deve ser identificado e punido. E ai discordo do Mídia Ninja que diz que não houve a intenção de acertar o jornalista. Pouco importa. Essa situação se compara a do motorista que ingere bebida alcoólica, dirige e atropela alguém. Ele tinha informação suficiente para saber que, ao fazer aquilo, podia matar alguém. Ele assumiu o risco e isso no direito se chama “dolo presumido”.
3) Não adianta agora reclamar que a imprensa está manipulando para criminalizar os black bloc. Isso equivale a desfilar pelas savanas africanas e depois reclamar que foi atacado por um leão. Ué, mas alguém achou que seria diferente? É claro que eles serão criminalizados por essa mídia conservadora! E um movimento social que não trabalha com os dados da realidade está fadado ao fracasso ou a passar o resto da vida reclamando.
4) Também não é de se descartar que haja infiltração. Pode ser da polícia, de miliciano (vide esse advogado que surge agora, com seu “estagiário”) ou de qualquer outra coisa. Quem participa de algo que não tem organização, que basta chegar para fazer parte e onde todo mundo anda mascarado tem que assumir de princípio o risco da infiltração. Aliás, e novamente, isso é mais do que óbvio.
5) O que essa Sininho estava fazendo na porta da delegacia? Por que ligou para o tal estagiário? Alguém pode dar umas férias na Nova Zelândia pra essa moça?
–
Gustavo Gindre é integrante do Coletivo Intervozes, jornalista e mestre em comunicação pela UFRJ