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Dos 194 milhões de habitantes que tem o Brasil, 56 milhões vivem nas periferias urbanas
Por Thiago Borges, do Periferia em Movimento
[caption id="attachment_40180" align="alignleft" width="300"] Vila Calu, zona sul de São Paulo (Por Thiago Borges/Periferia em Movimento)[/caption]
É o que aponta o Mosaic, um levantamento da consultoria Serasa Experian que divide a população brasileira em dez grupos e 39 segmentos com base em renda, geografia, demografia, padrões de comportamento e estilo de vida.
Para saber mais sobre o Mosaic, clique aqui.
Segundo a consultoria, as periferias respondem por 29% da população brasileira, mas são bastante diversificadas.
“A periferia é bem heterogênea. Você não consegue colocar em caixinhas. A periferia jovem é a mais numerosa, mas tem a periferia formada por quem está envelhecendo”, diz Fernando Rosolem, gerente de produtos da Serasa Experian.
Dentro dessa parcela, a periferia pode ser dividida em grupos, segundo a Serasa Experian:
(% em relação à população brasileira)
5,49% Excluídos do sistema
4,68% Trabalhadores de baixa qualificação
3,55% Jovens trabalhadores de baixa renda
3,15% Operários aposentados da periferia
3,13% Famílias assistidas da periferia
2,74% Jovens na informalidade
2,74% Maturidade difícil
2,16% Casais maduros de baixa renda
1,32% Estudantes da periferia
Fonte: Serasa Experian
A variação não diz respeito somente à faixa etária, mas também à forma de se levar a vida, como o maior interesses dos jovens em ingressar em cursos universitários.
“Existe esse ponto da periferia, esses grupos que têm um futuro promissor, ocupam espaços em sua comunidade e procuram melhorar sua qualidade de vida”, aponta Rosolem.
Já os jovens trabalhadores de baixa renda são na maioria das vezes mulheres solteiras que vivem em grandes capitais e têm empregos de baixa qualificação profissional, mas com carteira assinada.
A juventude, em muitos casos, também é arrimo de família. Muitos trabalham por conta, sem registro em carteira.
“Por outro lá, há grupos que, pela idade ou pela situação econômica, representam poucas expectativas”, aponta Rosolem.
Classificados pela Serasa Experian como “excluídos do sistema”, esses brasileiros vivem em periferias e não têm conta bancária, trabalham em comércios de rua, têm entre 30 e 40 anos e suas oportunidades profissionais são poucas.
Boa parte é analfabeta, o que os torna essencialmente marginalizados. Para a consultoria, esse seria o grupo populacional que estaria mais à margem da margem do cenário social urbano.
Para além dos “negócios”
Os dados do Serasa Experian são vendidos como serviços prestados pela consultoria a grandes empresas, como redes de varejo, com o objetivo de aumentar as vendas a partir da análise do consumidor.
Se por um lado o levantamento da Serasa Experian apresenta um perfil detalhado da população brasileira, por outro fica de fora uma análise para além do comportamento que favoreça o consumo.
Entre 2002 e 2012, 37 milhões de brasileiros emergiram da baixa renda direto para o mercado de consumo, segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). A aclamada classe C aumentou de 38% para 53% da população, atingindo a 104 milhões de pessoas, que hoje respondem por 38% do consumo das famílias, de R$ 2,5 trilhões.
Para Marcio Bhering, morador do Jardim Rosana (zona Sul de São Paulo) e trabalhador do Instituto Sou da Paz, a ascensão social experimentada nos últimos anos inclusive atrapalha e aumenta as distorções dentro da própria periferia.
“Não quero tirar o mérito disso, mas é preciso ter mais coisas junto”, diz ele, para quem os motivos dos deslocamentos de moradores da periferia para o centro evidenciam essa segregação. “Quando as pessoas da periferia vêm para o centro, elas vêm para lugares que são para pessoas da periferia”, diz ele, referindo-se, por exemplo, aos locais de trabalho ou lazer.
*Essa reportagem pertence à série À margem da margem