Irmão de Antônio Guilherme Ribeiro Ribas, assassinado na Guerrilha do Araguaia, conta como as cicatrizes da ditadura persistem naqueles que lutaram contra o regime militar
Por Felipe Rousselet
Nesta sexta-feira (12), a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva” realizou uma audiência pública para ouvir testemunhos de familiares de militantes desaparecidos na Guerrilha do Araguaia.
Os militantes do Araguaia, na sua maioria membros do PCdoB, escolheram a região no sul do Pará, na divisa entre o Maranhão e Tocantins, para instalar a guerrilha. Entre 1972 e 1975, durante a repressão à Guerrilha do Araguaia, os soldados do exército cometeram graves violações aos direitos humanos, como prisões ilegais, torturas, mutilações, estupros, além de execuções de guerrilheiros e moradores locais, tidos como colaboradores.
Presidida pelo deputado estadual Adriano Diogo (PT), a audiência pública contou com a presença de diversos familiares de desaparecidos políticos na Guerrilha do Araguaia: Igor Grabois, filho de Gilberto Olímpio Maria; Crimeia Schmidt, ex-guerrilheira do Araguaia; Dalmo Ribas, irmão de Antônio Guilherme Ribeiro Ribas; Liniane Brum, sobrinha de Cilon da Cunha Brum; Laura Petit, irmã de Jaime e Lúcio Petit; e Rosana Momente, filha de Orlando Momente.
Dentre os testemunhos feitos durante a audiência, destacou-se ode Dalmo Ribas, militante do PC do B e irmão de Antônio Guilherme Ribeiro Ribas, ex-presidente da UPES (União Paulista de Estudantes Secundaristas) e ex-militante do PC do B, brutalmente assassinado pela ditadura militar. Dalmo falou da trajetória dele e do irmão na militância contra a ditadura e deu um raro depoimento sobre como as marcas da ditadura permanecem vivas naquelas pessoas que lutaram contra o regime militar.
Leia abaixo o testemunho de Dalmo Ribas, editado, na Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”.
[caption id="attachment_22901" align="aligncenter" width="610"] Audiência ouviu testemunhos de familiares de desaparecidos na Guerrilha do Araguaia. De camisa branca, Dalmo Ribas[/caption]Queria me dirigir ao deputado Adriano Diogo para enaltecer e agradecer o papel destacado que possui na consumação da Comissão da Verdade aqui em São Paulo. Eu entendo que, em termos de doação e de compromisso, nós estamos vivendo uma Terceira onda revolucionária. A primeira foi aquela da Anistia; a segunda, a luta pelas eleições diretas e a terceira, agora, com a Comissão da Verdade. Guardadas as peculiaridades de cada uma, atribuo a mesma importância política. Ou seja, o Brasil será diferente caso consigamos um bom êxito na apresentação deste relatório, que a princípio está marcada para o ano que vem, quando completamos 50 anos do golpe de 64, mas que, devido ao tamanho da sujeira varrida para debaixo do tapete, pode ser prorrogada. Tenho certeza que se dermos continuidade a este trabalho que desenvolvemos, estaremos subindo para um novo patamar de participação política no Brasil.
Já fiz depoimentos públicos falando sobre o meu irmão e sobre a sua atuação. Porém, sempre são ressaltados os aspectos institucionais do Guilherme. O fato dele ter sido presidente da UPES (União Paulista de Estudantes Secundaristas). Me parece que sempre faltou falar do que leva um jovem a optar pelo caminho que ele, eu, e tantos outros optaram.
Isso tudo começa, em casa, ainda naquele período anterior ao término da guerra. Eu nasci em 1944. Não havia sido lançada a bomba de Hiroshima e ainda não existia o término da guerra. Mas, logo depois, essas coisas são sucedidas, do ponto de vista político, por uma transformação grande na sociedade brasileira. A deposição de Vargas e a realização da eleição da Assembleia Geral Constituinte, que deu a Constituição de 46, justamente o início do período de buscas e investigações da Comissão da Verdade.
Quem éramos nós na década de 40, minha família? Éramos uma família pobre. Morávamos em Eldorado Paulista, que na época chamava-se Xiririca. E era justamente o lugar onde estava a fazenda do dr. Jaime de Almeida Paiva. O dr. Jaime de Almeida Paiva era um senhor empreendedor, de origem portuguesa, que via uma perspectiva de desenvolvimento econômico na região do Vale do Ribeira. Ele é, não mais e nem menos, o pai do Rubens Paiva e avô da Verinha e do Marcelo.
Meu irmão chamava-se Antônio Guilherme Ribeiro Ribas. Esse “Guilherme” é uma homenagem prestada a um médico que trabalhava nas classes laboriosas, que morava lá na Vila Mariana, na mesma rua que nós. Era um médico que exercia a medicina da maneira antiga, o médico de família. Ele tinha várias habilidades e uma delas era fazer partos. Minha mãe teve o Guilherme, seu último filho, que nasceu de oito meses. Então, quando ele nasceu, meu pai não estava em casa e o dr. Guilherme cumpriu as funções de obstetra e fez o Guilherme nascer. O dr. Guilherme era uma figura original. Ele gostava de política e, entre 45 e 46, era um dos que rabiscava as paredes da Vila Mariana colocando o nome do Iedo Fiuza para presidência da República. Era homeopata, então entusiasmava-se em divulgar a homeopatia. Tinha um grave defeito, aos olhos do humanismo presente, gostava de rinha de galo de briga. Quando o Guilherme nasceu, de oito meses, ele não teve dúvidas e, na falta de uma incubadora, levou uma chocadeira de ovos dos galos de briga, adaptou de tal forma que o Guilherme ficou aqueles 15 dias que faltavam pra nascer na incubadora do galo de briga. Aí, dna. Iaiá, minha mãe, sempre que surgia algum descompasso na vida do Guilherme, que era mais intempestivo e posicionado, minha mãe falava: “Isso é coisa do Dr. Guilherme. Colocou o menino na incubadora do galo de briga e acabou criando um encrenqueiro”.
No final da década de 40, ainda estava muito próxima a Revolução de 32. Meu pai participou da Revolução de 32. Na época, quando se recomendou que os combatentes devolvessem as armas, ele, que tinha adquirido a patente de tenente, negou-se a devolver as armas. Então, ele tinha um fuzil que fora da guerra de 14, tinha uma espingarda e uma caixa cheia de granadas. Aquilo era guardado em cima do guarda-roupas e era um objeto de fetiche tanto para mim, como para o Guilherme. Ficava como se houvesse um subtexto nas nossas conversas que alguém para ser homem de fato tinha que fazer uma revolução. Quando perguntavam para o meu pai se procedia este tipo de informação, ele respondia: “No Brasil a gente tem sempre que ter um lugar para se esconder e uma arma para se defender”. Isso nos foi embutido, mas de uma forma muito mais militarista do que ideológica. Porém, a gente achava que, em algum momento, aquilo poderia fazer um sentido mais próximo para nós.
Para complicar a situação, meu irmão mais velho, 7 anos mais velho, casou-se aos 19 anos. Casou-se com a filha de um sindicalista metalúrgico, que era um ativista político bastante conhecido no PCB, o Francisco Romanini. Quando eu o conheci, ele vendia o jornal Voz Operária, e outros documentos do partido, na feira da Vila Clementino. Para atrair a atenção dos passantes, a Romilda, que casou com o meu irmão Valter, tocava acordeom. Era a Romilda no acordeom e ele vendendo o material do partido e criticando a política da época. Ele se referia sempre À burguesia. Mas tinha uma maneira mais direta de abordar o próximo de forma que incutia na alma a inquietação.
Era uma festa de aniversário na casa do meu irmão, eu devia ter uns 12 ou 13 anos; o Guilherme, um ano e meio mais novo que eu, e o seu Francisco nos chama de lado e pergunta o que nós queríamos ser quando crescêssemos. Inventei uma ocupação que me parecia importante, piloto de avião, advogado, uma coisa desse tipo. E o Guilherme, como minha mãe dizia, era meu papel carbono. A distância de idade era pequena e minha mãe dizia que ele repetia tudo o que eu dizia. Então, ele deu uma resposta que ia mais ou menos na mesma linha da minha. Aí vem o seu Francisco e nos coloca um princípio de realidade. Ele falou: “Isso que vocês estão falando é uma tolice. Vocês não vão conseguir nada, vocês vivem em uma sociedade de classes”. Eu lembro que ele fez um desenho, nos colocando no pé do desenho e disse: “Vocês estão aqui embaixo, se não houver uma luta revolucionária que transforme tudo isso aqui, vocês nunca vão chegar aqui em cima".
Nós levamos daquilo a preocupação para dentro de casa. A história acabou em um conselho de família onde meu pai foi posto a par do que aconteceu na conversa com o Francisco Romanini. Meu pai falou que não era bem assim. Citou o exemplo do americano, do homem feito por ele mesmo, foi na estante e pegou um livro do Alexis Carrel, chamado “O Homem, esse desconhecido”, me entregou e disse que já tinha idade para entender aquilo. O livro era interessante, mas não tinha a resposta que eu queria.
Esse interesse, esse gosto pela participação política, foi uma coisa que veio lá de trás. Sabe-se lá de que maneira aquilo foi se constituindo na cabeça da gente.
Só que, na semana seguinte, haveria o Congresso da UNE. Nós nos reunimos para ponderar se o Guilherme devia ou não participar do Congresso. A determinação do partido foi para ele participar. Falamos que parecia um congresso bichado, com possibilidades de cair todo mundo. Aí eu lembro que o camarada Diógenes de Arruda Câmara foi categórico e falou: “Prisão não foi feita para cachorro. Se é pra ser preso, que seja preso”. Aí cumprimos a ordem.
Na verdade, o Guilherme, que sequer era universitário, foi indiciado como um dos quatro responsáveis pela realização do Congresso. O Zé Dirceu, o Luís Gonzaga Travassos, o Vladmir Palmeira e o Antônio Guilherme Ribeiro Ribas. Eles estavam ainda na fase de instrução do processo quando houve o sequestro do Elbrick. Vladimir, Zé Dirceu e o Travassos são trocados pelo Elbrick, junto com outros prisioneiros. Por que o Guilherme não foi trocado também? Primeiro porque ele era secundarista e, no entender dos companheiros, não iam gastar uma vaga no avião à toa, porque no fim das contas ele não tem nada com isso. Tinha. Foi a única pessoa condenada por ter organizado e participado do Congresso de Ibiúna. Todos os demais, por diferentes razões, não foram condenados. O único estudante condenado foi um secundarista. Então, ai você vê o nível da arbitrariedade. Não importava a condição da pessoa, e sim a birra contra ela. [caption id="attachment_22902" align="alignnone" width="610"] Antônio Guilherme Ribeiro Ribas e José Dirceu (Foto:Reprodução)[/caption]
Ele cumpriu pena durante 1 ano e meio. Saindo da cadeia, cinco ou seis dias depois, cai o Vale do Ribeira. Foi aí que a coisa complicou. Meu pai, desde do início da década de 50, estava no Vale do Ribeira. Tinha comprado um pedaço de terra na Serra do Azeite, onde estava localizado o Sítio Kanikaru, por onde o Lamarca fez o ingresso para entrar no mato. Então, quem dirigia as ações, representando o exército, era o Erasmo Dias. A primeira coisa que ele fez foi mandar prender meu pai. Meu pai ficou quatro meses preso na aeronáutica. Em um dos interrogatórios, lhe foi dito o seguinte: “Nós sabemos que você tem dois filhos na subversão. Se eles se apresentarem, você sai”. Em outro momento, quando eles foram mais duros, disseram: “Olha, seus filhos foram incluídos na lista dos incorrigíveis. Esse pessoal, quando for encontrado, será morto e não será nem notificada a família”. Foi o que eles fizeram. No caso do Guilherme, além de morto foi degolado. A exemplo dos outros desaparecidos, nós nunca tivemos nenhuma informação.
Existe um lado da militância política que durante muito tempo me atormentou e que guardei para mim até porque roupa suja não se lava fora. Mas, a Comissão da Verdade tem me induzido a pensar um pouco a respeito de coisas que se passaram comigo. Por exemplo, nesse episódio que eu contei, quando falava da troca do Vladmir, do Travassos e do Zé Dirceu. Antônio Guilherme não foi. Foi por que ele era secundarista? Não. Foi porque, na hora que o Elbrick estava sequestrado, veio um documento que pedia para que o partido subscrevesse aquele documento e conferisse um arco mais amplo para a ação que estava sendo realizada. A orientação do partido foi não subscrever o documento porque diziam que esse tipo de ação não correspondia à maneira de agir do partido. Diziam saber como isso começa e que, quando terminasse, iria estourar nas costas do partido. A retribuição foi ele não ser incluído na lista, nem ele e nem ninguém do PC do B. Agora, isso é feio de se contar, mas faz parte da verdade, da história do Brasil, era a concepção que se tinha na época. Mas eu, militante que estava dentro do partido, me senti tão humilhado e tão mal, não só diante do que estava acontecendo, mas com a divergência posta dentro de mim, a ambiguidade entre aceitar a posição do partido ou contestá-la. Hoje está tranquilo, entendo o que se passou. A militância é uma coisa muito complicada. Às vezes falamos de uma forma que parece que tudo era bonito e heroico, e não era só bonito e heroico. Existe uma frase do Mao Tsé-Tung que acho lapidar, ele fala: “A revolução não é um banquete de gala”. Considerando isso, nós sabemos que as posturas protocolares não são assim tão “limpinhas” quanto nós gostaríamos ou como a gente idealiza.
Eu lembro que, durante muito tempo, sentia uma sensação de vergonha por não ter sido preso e nem morto. Uma coisa absurda, para divã de psicanalista. Agora, qual psicanalista que iria entender um negócio desse? Às vezes, esse tipo de coisa acontecia de uma forma muito contundente porque você encontrava, dentro da sua família, opiniões opostas a você. Não raras vezes ouvi comentários assim: “É, quem deveria estar preso não está, e quem não deveria, está”. Isso aconteceu muitas vezes. Eu casei seis vezes e vou colocar isso na conta da ditadura também. Depois precisei entender o porquê que essa parte que envolve sentimentos e emoções mais finas ficasse tão prejudicada como aconteceu comigo. Tenho três filhos, um de cada relação. O que acontecia para que não durasse tempo suficiente para ter o segundo filho? O primeiro chama Daniel Araguaia, em homenagem à guerrilha. O segundo chama-se Guilherme, em homenagem a meu irmão. O terceiro, Gabriel, o anjo da anunciação. Mas, para mim, trazia um conflito, a mãe do Gabriel é policial e o pai dela serviu no DOPS no período da repressão. Então, veja como trabalha a natureza humana, o espírito humano, que leva você a realizar ações que chamaria -- sou psicólogo de formação --, de uma atitude contra fóbica. Meio que um desejo secreto de saber o que acontecia na cabeça de um delegado do DOPS na época que eu temia tanto o DOPS.
Essas coisas normalmente não são contadas. A gente também tem os nossos mecanismos de racionalização e nos protegemos disso tudo. É simplesmente uma coisa terrível. Você andar com um documento no bolso, com um nome que não é o seu, é uma coisa terrível. Torna você invejoso. Lembro que muitas vezes ia fazer os meus contatos, para arregimentar pessoas, trazê-las para o partido, e na casa destes contatos eu era apresentado como um amigo qualquer, que também fazia, por exemplo, medicina. Daí eu via a mãe que tinha ido buscar o filho para almoçar, a cunhada que estava com o sobrinho, e você morando em um quartinho muxibento de pensão e falando: “Nossa, a vida está passando e quem eu sou de fato?” Que vontade que não dava de largar tudo e ter uma família com uma constituição tranquila, com um sogro, uma sogra. Uma coisa que me oferecesse estabilidade.
Acho que tudo isso faz parte da Comissão da Verdade. Esse grito parado dentro da gente é uma coisa que ficou na cabeça de muitas pessoas, que acabaram descambando para a droga, o alcoolismo. O Chico Romanini passou pela cadeira do dragão, foi miseravelmente torturado, arrebentado. Quando saiu, a alegria dele se resumia a jogar bocha e beber, beber, beber... De uma forma que não dava para reverter aquela situação. Assim como ele, quantos não entraram nisso? Acho que é importante contar isso tudo porque não temos uma noção de que, mesmo passados 50 anos, essas coisas todas estão dentro da gente, incutidas.
Ainda hoje faço parte do PC do B, mais por razões afetivas do que ideológicas. Quando vou visitar a sede, ali na Amaral Gurgel, vejo aquele monte de papel em cima das mesas, fotografias, a bandeira do lado de fora, ainda tenho um impulso de me proteger. Penso assim: “Esses caras estão loucos colocando a bandeira do lado de fora, e se aparece alguém e pega tudo isso que está na mesa?" Coisas que ficam guardadas dentro da gente de uma forma muito profunda.
Hoje, quando ouço falar que a Comissão da Verdade, dentre muitas das suas propriedades, também tem a propriedade de servir como uma espécie de uma psicoterapia aos ex-militantes, eu concordo. Estou dando um testemunho. Vocês não tem ideia do prazer que proporciona. Da sensação de higiene, de limpeza interna que me proporciona poder falar dessas coisas.
Essa é a situação. Lamento muito a morte do Guilherme. Ele foi parar no partido porque eu o levei para o partido. Quando ele se despediu para ir para o Araguaia, nós nos reunimos na casa do meu irmão Valter, lá na Rua dos Comerciários. Ele conversou sobre a consciência que tinha sobre o caminho que estava tomando. Neste dia, lamentou um dor que estava sentindo no dente canino, visivelmente cariado. Eu me lembro de ter conversado por mais tempo com ele sobre aquele dente cariado, do que propriamente sobre a escolha que ele estava fazendo. Para mim, era muito doloroso, mas perguntei se ele tinha confiança naquilo que ele estava escolhendo e ele falou: “Para mim não tem mais retorno. Ou eu vou para a guerrilha e volto de lá junto com a revolução, ou eu prefiro a morte”.
Nessa hora, ele me entregou alguns poemas escritos por ele. Dentre todos, havia um que achei de extrema sensibilidade, mas muito pesado. Guardei esse poema comigo e vou ler agora em homenagem ao Guilherme e a todas as pessoas que, assim como ele, acreditaram nos sonhos. Ontem estava assistindo o Caetano Veloso e ele canta em um refrão: “Os comunistas acreditavam em sonhos. Os comunistas tomavam conta dos sonhos. E não é possível se viver sem eles”. Mais ou menos isso. Agora, esse aqui é o Guilherme falando. Ele fala assim:
A morte que eu me desejo
Capaz de recompensar a vida em um só lampejo
É uma morte bem doída, morte sem ser herói
Morte, em que muitos morrendo, na verdade morrem só
Morte sem anjo da guarda
Morte do anjo que aguarda
Morte do anjo sem dó
Tem que ser no meio dia, em que tendo vivido só meio, me valha por um dia inteiro
Semana, mês, ano ou segundo que justifique a existência
Em que não falte a bala da inclemência e a forçada reverência que faz aquele que abala, ferido no ponto que cala
Ferida no peito que é mala
De um coração que viaja, de um coração de campanha
Tem que ser em chão de terra a morte que vou morrer
Tem que haver rumores de guerra na morte que vou morrer
Tem que haver uma mortalha na morte que vou morrer
Em nome do socialismo, que transforma em bandeira, a morte que vou viver