Os seis professores vencedores do 3º Concurso Aprender e Ensinar – Tecnologias Sociais, promovido pela Fundação Banco do Brasil e revista Fórum, estão na Tunísia, onde participam do Fórum Social Mundial. O evento começou nesta terça-feira (26), com a marcha de abertura no centro da capital do país, Túnis.
[caption id="attachment_22454" align="alignleft" width="294"] Da esq. para direita: Claiton Mello, da Fundação Banco do Brasil, e os professores Jemima Soares, Tania Vital, Sueli Gonçalves, René Scholz, Fernando Nunnes e Rafael Ribeiro. (Foto: Radio Vaticano)[/caption]Nesta quarta-feira (27), os professores Jemima Soares, Tania Vital, Sueli Gonçalves, René Scholz, Fernando Nunnes e Rafael Ribeiro apresentam suas iniciativas aos participantes do FSM, no campus da Universidade El Manar.
Antes de chegar em Túnis, os seis professores foram entrevistados na Radio Vaticano, em Roma, na Itália, onde ficaram por dois dias. Eles também foram recebidos na embaixada brasileira na Itália e serão recebidos na da Tunísia.
Os resumos dos projetos desenvolvidos pelos vencedores do 3º Concurso Aprender e Ensinar foram traduzidos para inglês, espanhol e francês
Com quase 4.698 professores inscritos de escolas públicas, espaços não formais de educação e institutos federais, o Concurso Aprender e Ensinar é o maior do País.“São quase 5 mil professores que tratam do tema tecnologia social com no mínimo uma turma, alguns com mais de uma, outros com as comunidades. Imagine quanto tem de transformador isso?”, destaca Jorge Streit, presidente da Fundação Banco do Brasil (FBB). Com diversos enfoques, como a reciclagem, a agroecologia e o uso de softwares livres, todas as iniciativas buscam o desenvolvimento sustentável.
Confira as 65 tecnologias sociais premiadas no 3º Concurso Aprender e Ensinar
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Veja abaixo as iniciativas dos seis professores que estão na Tunísia
Região Norte - Amazonas
Iniciativa de forros ecológicos vence na Região Norte O projeto da professora Jemima Silva de Paula transforma embalagens longa vida em forros ecológicos. Realizada em Manaus, na Escola Municipal Boa Esperança, a iniciativa resolve o problema da falta de conforto térmico nos lares das famílias de baixa renda da comunidade. A tecnologia social é fácil de montar, leve, móvel e barata. Segundo Jemima, como o forro fica a 30 centímetros do teto, o calor fica retido e, como o material tem alumínio, a luz é propagada, economizando energia. Além de ser uma solução, o projeto ainda mostra a importância da reciclagem. A partir de sua implantação, a comunidade se mobilizou para formar uma cooperativa de coleta de materiais recicláveis. O projeto envolve os professores de várias disciplinas. Na cerimônia de premiação do Concurso, Jemima relatou a dificuldade de entrar nas comunidades, já que a escola está numa região considerada “área vermelha”, por conta do tráfico de drogas e da violência. “Por ser professora, todo mundo te conhece”, afirmou. “Ser premiada foi um reconhecimento de toda a minha vida”, disse ela, que acredita que “ser professor é ‘mexer’ com vida das pessoas”. Com certeza, é o que Jemima está fazendo.
Região Nordeste - Ceará Cisternas de fibra de bananeira vence no Nordeste A iniciativa do professor Fernando Nunes de Vasconcelos, de Bela Cruz, garante acesso à água potável à comunidade de Baixa Nova, no semiárido cearense. Com o projeto, já foram construídas, coletivamente, dez cisternas por meio do reaproveitamento da fibra de bananeira, com capacidade para 16 mil litros de água. Conforme o professor, a técnica é mais barata do que as cisternas de placa convencionais. “Acrescenta-se 80 % de fibra de bananeira, 15% de cimento e 5% de areia”, explica ele. Os custos foram financiados com doações. Os alunos da Escola Professora Theolina de Muryllo Zacas aprenderam em diversas disciplinas a importância do recurso hídrico, medidas de escala e volume, a resistência da fibra e a análise da qualidade da água. São realizadas capacitações para o manejo e uso adequado das cisternas. Com a premiação, Vasconcelos pretende conseguir novos parceiros, para a reaplicação da tecnologia social em outras comunidades de Bela Cruz e, quem sabe, no estado. [caption id="attachment_22455" align="alignleft" width="336"] Professores durante a Marcha de Abertura no FSM (Foto: Adriana Delorenzo)[/caption]
Região Centro-Oeste – Mato Grosso do Sul
Escola premiada em Campo Grande reúne iniciativas com a comunidade A Escola Municipal Professor Fauze Scaff Filho vem implantando diversas tecnologias sociais. “Nosso objetivo era fortalecer as relações entre escola e comunidade, tornando o ensino significativo para os alunos”, afirma Tânia Vital da Silva Gomes, premiada no Concurso pela Região Centro-Oeste. A escola atende aproximadamente 960 alunos e está na periferia de Campo Grande, onde cerca de 50% das famílias são atendidas pelos programas Bolsa Família ou Vale Renda. A questão socioambiental é o foco das diversas iniciativas. Há plantação de verduras orgânicas na horta da escola, ações voltadas à melhoria na qualidade alimentar, reciclagem, o fornecimento de mudas de hortaliças, produção de sabão líquido com óleo de cozinha usado, compostagem e a confecção de hortas verticais de garrafas pets, pelos alunos. As famílias contam com formação técnica por meio de oficinas sobre hortas, para a implantação e a manutenção das hortaliças em suas casas. Com um grande número de famílias que vive da coleta e venda de recicláveis, a direção da escola, com professores e alunos, mobilizou lideranças de bairro, igrejas e comerciantes, e convidaram os catadores do bairro para o Projeto Cataforte. Trata-se de um curso de três meses realizado com o apoio da Fundação Banco do Brasil. Aproximadamente 65 catadores, moradores dos bairros Nova Campo Grande, Serradinho e Jardim Carioca, participaram do curso, nas dependências da escola, e, depois, formaram uma cooperativa. “A premiação fortalece as tecnologias sociais que nós reaplicamos”, afirma Tânia. “Valeu a pena, porque conseguimos transformar a vida de algumas famílias, dando dignidade e oportunidades.”
Região Sudeste – São Paulo
Projeto vencedor do Sudeste desperta o gosto pela literatura Com o objetivo de desenvolver o gosto dos alunos pela leitura, a professora Maria Sueli Fonseca Gonçalves criou uma Academia Estudantil de Letras (AEL). O projeto acontece no contraturno da escola, e os alunos devem escolher um autor para representar na AEL. Feito isso, tomam posse de suas cadeiras literárias. Não há exigência de qualquer pré-requisito para o ingresso nem há limite quanto ao número de participantes. A iniciativa surgiu em 2005, quando Sueli era professora numa escola da zona Leste da capital paulista. Desde 2006, ela está trabalhando na Diretoria Regional de Educação da Penha, onde atua na ampliação da proposta. Hoje, já são 22 Academias na Rede Municipal de São Paulo, envolvendo cerca de 1,5 mil alunos. A iniciativa também serviu de modelo para a implantação de Academias Estudantis de Letras em escolas das cidades de Ferraz de Vasconcelos, Guarulhos, Poá e Suzano e, para além do estado, em Apodi, interior do Rio Grande do Norte. Em São Paulo, são cerca de cem professores trabalhando pelo projeto, que assessoram os alunos com a função de coordenadores dos Estudos Literários. Com o apoio de arte-educadores, também no contraturno escolar, os alunos da AEL se preparam para apresentar as obras literárias na Mostra Anual de Teatro, que acontece no Centro de Educação Unificado (CEU), com a presença de todas as Academias. Há ainda outras atividades, como festa de posse e seminários. “Buscamos, com a literatura, desenvolver valores, respeito humano, solidariedade”, explica Sueli. “Os alunos entram e saem quando quiserem, mas nunca desejam sair”, finaliza.
Região Sul - Paraná Rádio como ferramenta educativa O projeto do professor René Gomes Scholz, do Programa de Educação nas Unidades de Socioeducação, localizado na Colônia Penal Agrícola de Piraquara, busca melhorar as condições de vida e de educação de adolescentes em conflito com a Lei. Para isso, foi criada uma rádio escola, que, com circuito fechado, leva programação diária para toda a unidade, conhecida como Educandário São Francisco. A rádio produz cultura, contribui para o exercício da cidadania, desenvolve o senso crítico e possibilita o desenvolvimento social e pessoal dos adolescentes. “É uma ferramenta muito importante durante o processo socioeducativo do adolescente porque ele é o protagonista da rádio, responsável pela elaboração da programação, entrevistas e conteúdos. A rádio também divulga os conteúdos de todas as disciplinas, reforçando o que foi visto em sala de aula", explica o professor. “A rádio possibilita o desenvolvimento da comunicação dentro da unidade. Por meio dela conseguimos despertar o aluno para o trabalho educativo. O rádio distrai os adolescentes e tem o poder inebriante. Utilizamos isso para promover campanhas educativas e reunir os alunos para tratar de questões pertinentes à realidade em que estão inseridos”, finaliza. Institutos Federais e escolas técnicas estaduais
REGIÃO SUL
Jogos digitais com heróis reais Com a iniciativa do professor Rafael João Ribeiro, os alunos do Curso Técnico em Programação de Jogos Digitais do campus de Telêmaco Borba, do Instituto Federal do Paraná, desenvolveram um game com personagens da Trupe da Saúde. Segundo o professor, quando o curso teve início, a dúvida era sobre os tipos de jogos que poderiam ser desenvolvidos. “Quando se pensa em games, a primeira ideia que vem são jogos estrangeiros, norte-americanos, com super-heróis, muitas vezes ligados a ações militares, guerras. Nossa intenção era encontrar quem seriam os super-heróis e os temas dos nossos jogos”, explica. Daí surgiu a ideia de inserir as tecnologias sociais aos jogos digitais. E a escolhida foi a iniciativa da Trupe da Saúde. “Eles levam a terapia do riso para 1,5 mil crianças de cinco hospitais de Curitiba, por semana. Vimos neles os verdadeiros heróis do Brasil, não têm superpoderes, mas fazem o bem para o País”, afirma. O jogo, disponível para baixar no site da Trupe da Saúde, passou a ser utilizado pelo grupo com as crianças hospitalizadas, e milhares de pessoas já fizeram o download. “Nas apresentações do jogo, foi gratificante para os professores envolvidos o momento de explicar para o público o trabalho dos ‘doutores da alegria’ nos hospitais da capital, não somente para as crianças, mas também para os convidados e representantes políticos. O jogo permite tocar nesse relevante assunto raramente lembrado nos currículos escolares”, relata Ribeiro.