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Ao lado da força tática da PM na reitoria da USP, professor da Pedagogia resolve dar aula no gramado
Por Camila Souza Ramos
Ao lado das duas fileiras de policiais militares em frente ao prédio da reitoria da USP, o professor da Pedagogia José Sérgio Carvalho falava aos seus alunos sobre legitimação da autoridade. A aula é normalmente lecionada dentro do prédio de Educação Física e Esporte (EEFE), sendo oferecida a alunos de diversos cursos da universidade que estão se formando em licenciatura. Mas desta vez ela aconteceu no gramado.
“A universidade não é lugar de cacetete, é lugar de aula”, disse Zé Sérgio, como é conhecido entre os alunos, justificando a aula como um protesto contra a presença da Polícia Militar (PM) no campus Butantã da USP. O tema era o conceito de autoridade na educação, baseado no livro Hannah Arendt, Entre o passado e o futuro.
Hannah Arendt foi uma das intelectuais mais importantes do século XX e rompeu com a tradição da filosofia de que os acadêmicos deveriam se restringir à academia, defendendo que eles se voltem à esfera pública. O espaço público é dotado de grande valor para Arendt, lugar que, para ela, é o único onde se faz possível a liberdade.
“O privado é o que me priva de ver e de ser visto pelos outros. Na luz pública, você é um sujeito público e sua responsabilidade é pública”, disse Zé Sérgio, em sua aula. “Responder sobre o mundo significa que o mundo é obra nossa, e o mundo público exige da gente coragem”.
Durante a aula, Zé Sérgio lembrou que as figuras que ocupam cargos públicos devem assumir a responsabilidade pelo que aconteceu no passado e sua autoridade no presente só lhes é garantida pelo consentimento. “A autoridade é garantida quando a hierarquia é reconhecida como legítima pelas duas partes. Gandhi, por exemplo, é uma figura que inspira autoridade, não porque as pessoas têm medo dele, mas têm nele segurança”, colocou.
Foto: Renato Santino
Enquanto o professor explicava a crítica de Arendt à autoridade impositiva, membros da PM faziam a guarda de uma das entradas do prédio da reitoria logo atrás da roda de jovens. Após a aula, os estudantes foram almoçar e brincaram com os guardas, oferencedo-lhes coxinhas.
A PM foi enviada após a expedição de uma liminar de reintegração de posse do prédio. Estudantes e funcionários acreditam que a decisão é uma forma de ataque ao movimento sindical e estudantil dentro da USP.
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