Estudo mostra que 48,5% dos trabalhadores que se afastam por mais de 15 dias de serviço padecem deste tipo de algum tipo de doença mental
Por Raquel Casiraghi, Agência Chasque
Um estudo da Universidade de Brasília (UnB) e do INSS mostra que o número de trabalhadores com problemas mentais vem aumentando nos últimos anos. Bancários, frentistas, trabalhadores do comércio, metalúrgicos, rodoviários e transportadores aéreos estão entre as categorias de maior risco. No levantamento, 48,8% dos trabalhadores que se afastam por mais de 15 de dias do serviço sofrem algum tipo de doença mental.
Anadergh Barbosa Branco, coordenadora do Laboratório de Saúde do Trabalhador da Faculdade de Ciências da Saúde da UnB, afirma que a depressão é o problema que mais afeta os trabalhadores.
"Acreditamos que toda essa mudança tecnológica e feita de uma forma inclusive muito rápida no Brasil causou um impacto considerável. Além disso, temos um problema, principalmente nos últimos dez anos, que é o aumento da violência social. E a gente percebe que a violência social está interferindo de uma forma muito acentuada no trabalho", diz.
Os bancários e os trabalhadores no comércio são os profissionais que mais sofrem diariamente com assaltos. Anadergh também relata que a pressão dos chefes nesses dois setores é constante e acaba prejudicando o trabalhador. Para a coordenadora, existem profissões que afetam a saúde mental das pessoas.
"Acho que é muito o caso dos bancários, dos caixas. Você trabalha com dinheiro, trabalha com valores dos outros e sem ter um controle total dessa situação. A gente está vendo aí um aumento grande dos assaltos a bancos", diz.
A pesquisa também aponta que a doença mental nunca vem sozinha. O alcoolismo é a conseqüência mais comum, que surge da depressão, do medo e do isolamento da família e dos amigos. A professora ressalta que profissionais que trabalham isolados, como os controladores de vôo, devem receber cuidados especiais.
Segundo levantamento, mais de 99% dos benefícios concedidos pelo INSS para trabalhadores com transtornos mentais foram considerados problemas pessoais dos trabalhadores, não relacionados com a profissão.
"O problema é que na doença mental é difícil você pontuar o que causa o que. Sempre uma coisa leva a outra. Em muitas vezes, a depressão leva ao alcoolismo, e este vai agravar a depressão. Porque a pessoa recorre ao álcool na tentativa de sair daquele estado. Isso é mais recorrente particularmente em homens, que tem uma maior dificuldade de se aceitar doente", afirma.
Entre as principais dificuldades para prevenir as doenças mentais do trabalho estão os diagnósticos imprecisos dos médicos, tratamento deficitário e a dificuldade do próprio trabalhador em aceitar a doença.