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Imagine a política nacional como um jogo de WAR, aquele tabuleiro cheio de territórios onde pecinhas coloridas representam exércitos. Uns querem conquistar 18 territórios, outros querem destruir os exércitos vermelhos... e por aí vai. Lembra?
Agora imagine que no WAR da política nacional a elite patrimonialista sempre joga com 3 dados, não importa o número de exércitos no referido território. Lembra que é fácil se defender com 3 dados porque o empate é da defesa? Lembra que é quase impossível conquistar algo quando se ataca de 1 contra três? Pois é, a elite tem a terra, os bancos, a mídia. Joga sempre de mão cheia.
Então como explicar a distribuição de renda e de oportunidades nos 14 anos de governo de centro-esquerda? Alianças. Você não me ataca aqui e eu não te ataco ali. Assim, enquanto duraram os acordos, a esquerda pode deixar alguns de seus territórios desguarnecidos e concentrar seu capital político em outros. Comunicação e reforma da mídia por exemplo ficou nesta situação, guardada por uma peça solitária, rodeada de territórios lotados de exércitos. Assim como ficaram desguarnecidas as questões ambiental, processos participativos, planejamento familiar e aborto, desmilitarização das polícias....vastos territórios da esquerda abandonados.
As cartas vão saindo e os jogadores vão se armando de peças. Depois de algum tempo o jogo deixa de ser 3x1 ou 3X2 e passa a ser 15x12. Jogo duro, onde as estratégias de alianças passam a valer menos. Caem os juros, a classe alta rentista fica sem rumo, perde um dos seus dados de defesa (os CDBs e RDBs rendendo 10% ao ano sem produzir nada). Os bancos interpretam isso como uma declaração de guerra e abandonam todas as alianças passadas. As empreiteiras continuam jogando, colecionando alianças.
De repente chega junho de 2013 e as cartas se embaralham. As manifestações corroem o poder político de todos, o jogo que andava na casa dos 12x15 volta para o 1x3. Territórios mudam de mãos, ou de partido, mais rapidamente. A elite patrimonialista enfurecida com os ganhos dos trabalhadores vê seus heróis capitalistas presos por corrupção e seus representantes na mesa serem todos, sem exceção, ameaçados.
Uma rápida conversa no banheiro decide a estratégia: chutar o tabuleiro. Eduardo Cunha é o escolhido para a tarefa e a cumpre com um sorriso nos lábios. E com Eduardo Cunha vem a o rótulo de golpista que não vai dar pra apagar nem com muita mídia sabonete.
Acabou o jogo, hora de recolher as pecinhas espalhadas pelo chão e ir pra casa cuidar da vida. Mas a vida é aqui, o jogo é a construção de um país. Com a elite mostrando todo seu desprezo pelas regras. Pior, como pensar em regras quando quem chutou o tabuleiro faz apologia à tortura, do machismo, da misoginia e da homofobia. Existem alguns que deveriam cuidar do cumprimento das regras, mas estes venderam a imparcialidade por um aumento de 78%. Conflito de interesse? Existem outros que deveriam informar e refletir sobre os acontecimentos, mas só os de muito longe, no El Pais, no The Guardian, no Los Angeles Times e no Le Monde se dedicam a isto. Os de perto estão tranquilamente vendendo desinformação e achando que com isso vão recuperar a vantagem que um dia tiveram no jogo.
Mas não tem mais jogo. Não adianta jogar só com os seus “amigos”, menos ainda quando os que ainda acham que podem jogar são todos da turma que chutou o tabuleiro. O jogo requer um mínimo de confiança nas regras e isto foi implodido nas últimas 6 semanas. Quando um dos participantes chuta o tabuleiro temos necessariamente um tempo de ressaca e de ódio, seguido por um longo tempo de desconfiança.
A questão principal agora é quanto tempo vai demorar para que a maioria confie nas instituições. Pode demorar 2 ou 20 anos. Até lá só nos resta resistir e apontar o golpismo de quem chutou o tabuleiro.
Foto de capa: Divulgação