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Bolsonaristas diziam que Lula perseguiria evangélicos e são eles que perseguem católicos

A CPI contra o padre Júlio Lancellotti escancara que a teocracia que a extrema direita pretende para o Brasil só admite uma religião, a neopentecostal

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CYNARA MENEZES

Durante a campanha de 2022, os bolsonaristas espalharam postagens forjadas para tentar colocar Lula como inimigo dos evangélicos, que iria "fechar igrejas" se fosse eleito. O próprio candidato derrotado Jair Bolsonaro repetiu a mentira. Lula (graças a Deus!) foi eleito e obviamente não houve qualquer perseguição religiosa da parte dele. Já os bolsonaristas acabam de iniciar uma cruzada contra os católicos na figura do padre Júlio Lancellotti, a quem tentam intimidar com uma CPI.

O problema da extrema direita brasileira com os católicos é antigo, desde a teologia da Libertação. Em 1995, um bispo da igreja Universal chegou a chutar a imagem de Nossa Senhora Aparecida ao vivo num programa de televisão –hoje ele se dedica a atacar Lula e o STF. Não por coincidência, em 2022 assistimos o desrespeito demonstrado pelos bolsonaristas para com a padroeira do Brasil, quando invadiram o santuário, bêbados e empunhando latas de cerveja, para insultar sacedotes e fiéis.

O papa Francisco, figura máxima da igreja, é vítima frequente da fúria bolsonarista contra os católicos. Em dezembro, o pastor Silas Malafaia divulgou um de seus vídeos histéricos onde insultava diretamente o papa, chamado por ele de "herege" por dizer que iria abençoar casais de qualquer orientação sexual –afinal, Francisco, como bom cristão, não faz distinção entre os filhos de Deus e ama o próximo como a si mesmo, conforme pregou Jesus nos Evangelhos. Os pastores bolsonaristas preferem odiar o próximo.

É importante lembrar que não são só os católicos que têm sido alvo da intolerância da extrema direita. Quantas vezes eles não atacaram e incitaram o ódio às religiões de matriz africana? A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro volta e meia demoniza o candomblé e a umbanda, como fez com Lula durante a campanha, divulgando um vídeo onde ele aparecia num ritual umbandista e associando a religião afrobrasileira a "trevas".

Brasileiros que professam outras religiões (ou não têm nenhuma) devem abrir os olhos para a guerra santa que o bolsonarismo está promovendo contra o padre. Ele é apenas a primeira vítima. A igreja católica precisa reagir de forma dura, em nome de Júlio Lancellotti, dos seus fiéis e de si mesma

Segundo o IBGE, são 125 milhões os brasileiros que se declaram católicos atualmente. É preciso que eles fiquem atentos: as críticas ao papa e a perseguição ao padre Júlio Lancellotti não são fatos isolados. O bolsonarismo está fazendo uma ofensiva contra os católicos.

A teocracia que os extremistas de direita pretendem construir em nosso país só admite uma religião, a neopentecostal, seguidora do Antigo Testamento e não dos evangelhos, embora usem o nome de Jesus Cristo para ludibriar incautos e encher os bolsos de dinheiro. Por isso perseguem religiosos como o padre Júlio, cujo maior "pecado" é seguir à risca a palavra de Cristo e dar de comer a quem tem fome.

Todos os brasileiros que professam outras religiões (ou não têm nenhuma) devem abrir os olhos para a guerra santa que o bolsonarismo está promovendo contra o padre. Ele é apenas a primeira vítima. A igreja católica precisa reagir de forma dura, em nome de Júlio Lancellotti, dos católicos e de si mesma.

A Arquidiocese de São Paulo soltou nota se dizendo "perplexa" com a possibilidade de abertura de uma CPI contra o padre, coordenador da Pastoral do Povo da Rua, que responde à instituição. "Perguntamo-nos, por quais motivos se pretende promover uma CPI contra um sacerdote que trabalha com os pobres, justamente no início de um ano eleitoral?", questiona a arquidiocese.

"Padre Júlio não é parlamentar. Ele é o vigário episcopal da Arquidiocese de São Paulo para o 'Povo da Rua' e exerce o importante trabalho de coordenação, articulação e animação dos vários serviços pastorais voltados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação de rua na cidade."

Mas nota de repúdio é pouco. A arquidiocese precisa exigir dos vereadores a retirada das assinaturas –lembrando que os evangélicos não são maioria na Câmara de São Paulo. É hora de os católicos e praticantes de outras religiões reagirem.