JOANA RIZÉRIO
Eu vi na TV, querido Lula, a escalada daquela sua nobre obsessão por matar a fome do brasileiro. De terninho azul de riscas, cabelinho e barba brancos e em dias, você prometeu, em Angola, não medir esforços para colocar comida no prato do mundo inteiro. Bravíssimo plano, meu presidente. Mas você já foi à Bahia?
Um velho samba de Gilberto Gil diz que o baiano “de fome, não morre, porque na Bahia tem mãe Yemanjá e, do outro lado, o Senhor do Bonfim”. Nós, os baianos, não queremos só comida, amado Lula. O desejo mais fundamental do resto do país –e até do mundo– pode ser picanha, arroz e feijão, mas aqui, não.
Você prometeu, em Angola, não medir esforços para colocar comida no prato do mundo inteiro. Bravíssimo plano, meu presidente. Mas você já foi à Bahia? O desejo mais fundamental do resto do país –e até do mundo– pode ser picanha, arroz e feijão, mas aqui, não
“O que você quer?” pergunta Caco Barcelos a uma adolescente baiana no Profissão Repórter do último dia 16 de agosto. A violência policial no Estado foi o tema do programa depois que a Bahia liderou o ranking nacional do último Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
“A gente quer câmeras nas fardas dos policiais”, sentenciou, decidida, a menina. Ela faz parte dos milhões de baianos que perderam o apetite ao saber que a Polícia Militar do Estado matou mil quatrocentas e sessenta e quatro pessoas ano passado.
Aquilo que a entrevistada pede –câmeras corporais no fardamento dos agentes– é comprovadamente eficaz na redução de mortes tanto de civis quanto de militares. Em São Paulo, a queda no número de mortes foi de mais de 70% nos últimos anos.
Ter a garantia de comer três vezes por dia é fundamental, meu presidente, mas, pensa aqui comigo: pra precisar de alimento, o corpo tem que estar vivo. Quem tem fome, tem pressa é um slogan que precisa ser adaptado pra funcionar aqui. Quando a bala da arma de um policial consegue matar mais rápido do que a fome, presidente, quem é negro, de estômago vazio ou cheio, é quem tem pressa.
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