A jornalista Leda Nagle afirmou, em agosto, em entrevista à atriz Antonia Fontenele, que o médico Anthony Wong, ferrenho defensor do "tratamento precoce" que não funciona, "morreu de Covid". Segundo reportagem de Ana Clara Costa na revista piaui, a empresa Prevent Senior, investigada pela CPI da Pandemia, teria ocultado a real causa mortis de Wong. A operadora também é acusada de ocultar a morte por coronavírus de Regina Hang, mãe do dono da Havan, Luciano Hang.
"O doutor Anthony Wong, um homem incrível, incrível, que me deu várias entrevistas, e que morreu de Covid no meio dessa história toda… Eu tinha entrevistas belíssimas com ele e fui obrigada a retirar do meu canal", disse Leda, lamentando ter sido obrigada pelo youtube a apagar vídeos negacionistas e a "perseguição" pelos sites de checagem de notícias, notadamente o Aos Fatos. O canal da jornalista era uma espécie de ninho de defensores do "tratamento precoce" que não existe: até o youtube mandar apagar 62 vídeos, Leda havia entrevistado diversas vezes quase todos os médicos bolsonaristas: Nise Yamaguchi, Raissa Soares, Osmar Terra…
Só Wong foi entrevistado 7 vezes por Leda Nagle, sempre em defesa do "tratamento precoce" que não funcionou nem nele mesmo. De acordo com a piaui, o médico foi internado e tomou o "kit covid" completo: hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina. Recebeu heparina inalatória, cujo efeito em infecções virais é desconhecido, e metotrexato venoso, tradicionalmente prescrito no tratamento de doenças autoimunes e inflamatórias crônicas, como artrite, mas sem efeito comprovado contra a Covid", conta a revista. Tentaram até o tal ozônio via retal, que o próprio governo negacionista de Bolsonaro condena. Nada adiantou e Wong veio a falecer em 15 de janeiro, aos 73 anos. Mas o atestado "não menciona Covid nem como causa básica nem secundária. Em vez disso, limita-se a informar as doenças que decorreram da Covid. No campo da causa mortis, diz o seguinte: choque séptico, pneumonia, hemorragia digestiva alta e diabetes mellitus", conta a revista.
Em todas as entrevistas no canal de Leda Nagle o médico emitiu informações inverídicas, nunca rebatidas pela jornalista, ao vivo ou depois. Em outubro do ano passado, três meses antes de falecer, Wong foi desmentido pelo projeto Comprova por ter dito que as vacinas contra a covid-19 não haviam passado pela fase pré-clínica. "É falsa a afirmação feita em vídeo pelo médico Anthony Wong segundo a qual 'nenhuma vacina contra o novo coronavírus passou pela fase pré-clínica' de testes", publicou a agência de checagem. "Na verdade, todos os compostos que estão em testes no Brasil passaram por essa etapa. O estágio pré-clínico é aquele em que o imunizante é aplicado em animais, ainda em laboratório, para saber se ele é seguro para ser testado em humanos." O trecho do vídeo com as mentiras de Wong a Leda passaram a ser republicadas e disseminadas por canais bolsonaristas nas redes sociais.
Após ter sido forçada a retirar seus vídeos do youtube e passar a hospedá-los no Vimeo, a jornalista Leda Nagle fixou um aviso em seu twitter em que tenta se eximir da responsabilidade por disseminar desinformação explicando ser uma mera entrevistadora."Não sou censora. Sou entrevistadora. Não faço fakenews (sic), Faço entrevistas. Respeito meus entrevistados. Eu pergunto. Eles respondem. É assim que entendo e exerço o jornalismo. Escuto todos os lados, ideias e ideologias. Acusar entrevistadora de fakenews é crime", escreveu, em letras garrafais.
Ora, não é verdade que Leda Nagle tenha ouvido "todos os lados" sobre o "tratamento precoce" que não existe, ou não teria insistido em entrevistar seguidas vezes os defensores destes medicamentos. Ela procurou a OMS? Ouviu médicos contrários ao uso destes remédios para tratar a Covid-19, que alertam que eles podem inclusive matar os pacientes? Ou continuou ouvindo não uma, mas duas, três, sete vezes o mesmo médico negacionista? Por que, enfim, ela não rebateu os negacionistas com dados, como qualquer jornalista sério faria?
E afinal, Leda, Anthony Wong morreu ou não morreu de Covid?