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Império em risco? Julgamento contra a Meta pode redefinir mapa das Big Techs

Em julgamento distrital nos EUA, Zuckerberg tem pela frente o desafio de responder acusações da Câmara de Comércio de práticas anticoncorrenciais

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Jornalista formado na ECA-USP, colaborador do Outras Palavras, ex-editor-executivo do Brasil de Fato, ex-editor da Rede Brasil Atual e ex-âncora na TVT e Rádio Brasil Atual.
Império em risco? Julgamento contra a Meta pode redefinir mapa das Big Techs
Anthony Quintano/Wikimedia Commons

O CEO da Meta, Mark Zuckerberg, testemunhou nessa segunda-feira (14) em um julgamento considerado de alto risco para as chamadas Big Techs. Isso porque ele diz respeito às alegações das autoridades antitruste dos Estados Unidos de que a empresa gastou bilhões de dólares para adquirir o Instagram e o WhatsApp e, na verdade, com uma intenção anticoncorrencial.

A Meta é acusada de ter construído um monopólio ilegal de mídia social quando adquiriu o Instagram e o WhatsApp. E a Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC, na sigla em inglês) afirma que essas aquisições foram motivadas pela intenção de eliminar potenciais concorrentes.

Este processo foi iniciado em 2020, ainda durante o primeiro mandato do atual presidente Donald Trump, e agora o juiz distrital dos EUA, James Boasberg, comandará um julgamento que deve se estender por sete a oito semanas. O que a Câmara de Comércio deseja é que a Meta seja obrigada a se reestruturar. O que, na prática, pode representar a venda do Instagram e do WhatsApp.

Segundo a agência estadunidense, essas aquisições não só prejudicaram a concorrência, como também consolidaram indevidamente o domínio da Meta no setor. Quando se fala de um julgamento dessa magnitude, o que está em jogo é o futuro de um negócio de publicidade que gira em torno de US$ 1,4 trilhão. Como diz esta matéria da NPR, seria uma cisão corporativa como não se via desde que o monopólio telefônico da AT&T foi forçado a se separar há mais de 40 anos.

Proximidade de Trump e Zuckerberg

A ação teve início no primeiro mandato do atual presidente Donald Trump, em dezembro de 2020, e àquela altura o republicano ostentava uma rixa muito grande com Zuckerberg. Só que agora ambos já estão se mostrando bem mais "amigos".

A Meta rejeitou políticas de moderação de conteúdo muito criticadas por Trump e pelos republicanos. Além disso, o CEO da companhia doou um milhão de dólares para a posse de Trump e tem sido visto em visitas frequentes à Casa Branca. Recentemente, o megaempresário comprou uma mansão em Washington, o que sugere um esforço da empresa para lidar diretamente, e por meio do seu próprio CEO, com questões políticas para influenciar decisões regulatórias.

Zuckerberg reverteu programas de diversidade, equidade e inclusão e adicionou duas novas pessoas ao seu conselho de administração. Uma das pessoas indicadas, Dinah Powell McCormick, foi assessora adjunta de segurança nacional no primeiro mandato de Trump. 

'Comprar ou enterrar'

Uma das principais alegações no processo da Câmara do Comércio diz respeito a um e-mail interno de 2012 de Zuckerberg, no qual ele diz explicitamente que a compra do Instagram teria sido motivada pelo desejo de "neutralizar um concorrente potencial". Outras comunicações internas vão no mesmo sentido. 

A FTC sustenta ainda que o serviço da Meta domina um segmento nichado de redes sociais, aquele voltado para as conexões pessoais com amigos e família, no caso, o Instagram e o Facebook. Os concorrentes que a companhia de Zuckerberg diz ter, como o TikTok, o X, o YouTube e o Reddit, seriam diferentes por focarem em conteúdo público baseado em interesse, de uma natureza menos interativa do ponto pessoal.

A ex-presidenta da FTC, Lina Kahn, afirmou que a Meta recorreu ao esquema de "comprar ou enterrar". Segundo ela, todo o ecossistema de redes sociais parece diferente hoje porque o Facebook foi autorizado a fazer essas aquisições. Além disso, a companhia de Zuckerberg também é acusada de ter omitido informações à época.

Ainda que o julgamento já tenha começado, não é impossível que se chegue a um acordo, embora especialistas, inclusive, do meio jurídico dos Estados Unidos achem isso altamente improvável. Mas, sendo que se trata da administração Donald Trump, nada é impossível.

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