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Datafolha no RJ: as chances e os riscos da esquerda na eleição

As escolhas nas eleições municipais também refletem na disputa de 2026

Créditos: Tomaz Silva/Agência Brasil
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À primeira vista, os resultados do primeiro Datafolha para a disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro poderiam mostrar uma fatura quase liquidada, já no primeiro turno, com a reeleição do atual prefeito Eduardo Paes (PSD). Afinal, ele tem entre 53% e 55% das intenções de voto conforme o cenário e alcança 28% na pesquisa espontânea, quando não são mostrados os nomes dos pré-candidatos. No entanto, alguns dados do instituto trazem um panorama menos definitivo e uma possibilidade de segundo turno em aberto.

Quando não é apresentada a lista dos postulantes, 53% dizem ainda não saber em quem votar. Isso, somado ao fato de Paes ser conhecido por 100% dos pesquisados, dá margem a que outros candidatos menos conhecidos possam crescer.

Apoiado pelo bolsonarismo, Alexandre Ramagem (PL) ainda é desconhecido por 63% dos entrevistados do Datafolha. Considerando que Paes tem 49% de intenções de voto dos eleitores que se dizem de direita e de 43% daqueles que votaram em Bolsonaro em 2022, o candidato do PL tende a crescer na disputa.

Por outro lado, Paes também conta com 65% dos votos daqueles que se declaram petistas, um segmento em que Tarcísio Motta (PSOL) pode angariar votos. Seu nome ainda é desconhecido por 37% dos entrevistados, sendo que outros 29% dizem conhecê-lo só por "ouvir falar".

À exceção de Cyro Garcia (PSTU), os demais pré-candidatos também são desconhecidos por pelo menos mais da metade dos eleitores. Além de perder votos à esquerda e à direita, o percentual de apoio a Paes também pode sofrer danos ali.

E um segundo turno?

Ainda que seus adversários consigam acumular mais apoio, minando sua base de votos, é altamente improvável que Paes fique fora de um eventual segundo turno. Seu índice de ótimo/bom de 46% e o fato de contar com 28% na espontânea dão a ele um piso confortável. A dúvida é sobre quem seria seu rival.

Ramagem tem uma boa possibilidade de alavancagem de votos, já que o bolsonarismo ainda é uma força significativa na capital fluminense. Mas carrega também o peso da rejeição de seus padrinhos famosos: 57% afirmaram que não votariam de jeito nenhum em um candidato apoiado por Bolsonaro e 61% não elegeriam alguém que tivesse o apoio do governador Cláudio Castro, do PL, mesma sigla do pré-candidato.

Já Tarcísio Motta, além do próprio eleitorado do PSOL, pode trazer para si o voto petista. Integrantes do partido estão insatisfeitos não só com o apoio da legenda a Paes como também pela hesitação do prefeito em definir um vice que seja do PT. O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) demonstra sua insatisfação publicamente e lidera um movimento chamado "Petistas com Tarcísio". 

"Vamos fazer abaixo-assinado, campanhas em todos os bairros. Vamos ter uma grande campanha do PT, com a cara do Lula, mas com o Tarcísio. Vamos fazer materiais. Eduardo Paes tem vergonha do apoio do PT", disse ele a O Globo.

Os riscos da esquerda

Um eventual segundo turno entre Eduardo Paes e Alexandre Ramagem seria terrível para a esquerda do Rio em vários sentidos. E ainda que o PT consiga o lugar de vice na chapa do atual prefeito, o papel de coadjuvante não deve trazer dividendos político-eleitorais relevantes para a legenda.

Pensando em 2026, a extrema direita vai aproveitar o palanque municipal para projetar nomes que, mesmo não vencendo a eleição, possam disputar a Câmara e, em especial, o Senado daqui a dois anos, quando serão duas vagas por estado em disputa. Assim, a esquerda ficar fora do segundo turno é uma derrota dupla.

Além disso, perde-se também a oportunidade de travar aquilo que os extremistas chamam de "guerra cultural", com a imposição de uma agenda com a qual o campo progressista fica na defensiva, se tornando refém de fantasmas que sempre voltam em períodos eleitorais.

As eleições francesas dão uma lição importante (mais de uma, talvez). Ali, quando Emmanuel Macron dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições, apostou na divisão da esquerda, rachada desde 2017. Na sua lógica, os votos que iriam para este campo não conseguiriam levar candidatos para o segundo turno e, naturalmente, os esquerdistas ajudariam a eleger os parlamentares da coalizão governista para barrar a extrema direita.

Mas Macron não contava com a união da esquerda, que em menos de 24 horas superou suas diferenças em nome de um projeto comum. E conseguiu virar.

As eleições no Rio são importantes não apenas pelo que se projeta para outubro, mas para daqui a dois anos e também para disputar um imaginário em que os extremistas praticamente dominam quase sem resistência. É hora de mudar o jogo.